QUEM SOU EU?
Há quem me considere um alienado. É que
geralmente não sei em qual dia estou, e nem o mês importa – muito menos o ano
inventado pelo papa Gregório. Muitas vezes acordo e não sei se está amanhecendo
ou anoitecendo. Para mim, o tempo não passa, não importa, não significa nada
mais do que um ‘fornecedor de experiência’.
Numa idade em que as pessoas acreditam que
já viram tudo, que sabem de tudo, eu estou descobrindo o mundo. As coisas que
eu já sabia? Eu pensava que sabia, mas adquiri a capacidade de ver o passado
com outros olhos – portanto, eu nada sabia. Nisso consiste a beleza da
existência. Meus olhos não envelheceram e o que vejo pode ser belo ou não, mas
vejo figuras e paisagens com a mesma animação de antes.
Enquanto eu puder observar a evolução do
comportamento humano, dos costumes, das modernidades tecnológicas, sentirei
prazer em viver. O dia em que eu perceber que estou ficando senil, nesse dia,
acredite, cometerei suicídio sem ter a menor dúvida de que decidi o certo. O
suicídio é o último bastião do amor próprio, da autoestima.
Pessoas que me cercam estranham quando digo
que não gosto de gente. Vou explicar melhor: não gosto de “conviver” com gente.
Gosto de acompanhar a evolução do pensamento – e quem pensa é gente, apesar de
que ‘nem sempre’. Bem, pelo menos nós, humanos, é que temos um raciocínio
encadeado e lógico. Deveríamos ter, mas nem sempre é assim. Prefiro manter
distância dos meus semelhantes. Pessoas, depois que abrem a boca, geralmente me
irritam. Dispenso amigos ignorantes. Prefiro conversar (isso é raro) com
pessoas por quem não nutro muita simpatia que sejam mais cultos do que eu, com
quem eu possa aprender algo de útil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário