Nossa justiça está doente. Sem uma boa visão, passou a escutar pouco. A continuar assim, piorando, em breve não poderá mais falar livremente.
AÇÃO PENAL 470
O maior julgamento do país. Tudo
televisionado. A população mais politizada discutiu o assunto em casa, nas
ruas, nos bares, nas faculdades, em toda parte. Estávamos vivendo momentos de
glória, com o Supremo Tribunal Federal dando o exemplo de como a justiça deve
funcionar. A imprensa deu uma cobertura ao “evento” que mereceu nota dez. Até
começamos a entender um pouquinho o ‘juridiquês’.
O melhor de tudo é que os brasileiros
começaram a acreditar na justiça. Até começarem as aposentadorias compulsórias,
que obrigavam alguns juízes a se retirar de cena. Mas no meio de um julgamento
tão importante? Pois é, bem no meio. Eu sei, isso não tem lógica. No início,
não conseguimos vislumbrar o futuro com nitidez. Quem iria substituí-los? Essa
escolha seria de suma importância para o partido do governo – principal
fornecedor de réus. Mas como pode a escolha ficar na mão de uma das partes
interessadas? Foi então que algumas dúvidas começaram a nos atormentar, com a
percepção de que os fatos, tido como consumados, poderiam mudar, sofrer uma
reviravolta.
Lentamente, a indignação começou a
substituir a alegria dos primeiros movimentos. O que parecia o começo de novos
tempos passou a revelar seu lado sombrio, seu lado vexatório. Está-se
configurando uma afronta a quem acompanhou de alma lavada, durante quatro
longos meses, todas as acusações até o veredito – que parecia final, mas não
era. O desrespeito à opinião pública chegou ao ponto de dois criminosos
condenados assumiram cadeiras no parlamento. Tudo começou a cheirar mal. A
certeza não era mais tão certa. A mídia começou a desvendar novos truques
jurídicos e um céu ‘kafkiano’ escureceu o que parecia tão claro.
Não podemos (ainda) afirmar que a justiça
perdeu-se em suas próprias teias. Nosso papel, agora, será continuar mostrando
que ainda temos esperança de que os réus condenados sejam presos. A opinião
popular tem uma força maior que a das leis. Nossa opinião não admite casuísmos.
Eles não vão nos vencer pelo cansaço.
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