sexta-feira, julho 13, 2012

MORO, ONDE NÃO MORA NINGUÉM...

   ACONTECEU NO ÚLTIMO CENSO

   Diálogo entre uma coletora de dados para o último censo demográfico do IBGE e eu, que estava na minha casa de veraneio, na serra fluminense.

- Bom dia, senhor! Vim entrevistá-lo para o Censo. Posso subir?
- Bem, é que eu estou almoçando agora...
- É só um minutinho, senhor... Posso?
- Tudo bem, mas seja rápida, ok?
- Ok! Estou subindo.

   Quando abri a porta do apartamento, logo suspeitei que teria problemas. Muito simpática, ela começou o interrogatório. Meia hora depois – minha comida já havia esfriado no prato e eu ficando irritado – ela quis saber quantas pessoas moravam no AP.

- Nenhuma – respondi secamente, porém com um indisfarçável prazer.
- Por favor – disse ela –, pode repetir?
- Aqui não mora ninguém – respondi me sentindo vingado.
- O senhor é alguém, eu presumo!
- Sem dúvida – respondi.
- E o que o senhor faz aqui, posso saber?
-Antes da senhora, eu almoçava – falei com certa ironia, percebendo que ela estava também sendo irônica.
- Se aqui não mora ninguém, o senhor invadiu este apartamento?
- Não. Este apartamento é meu – respondi.
-Arrá! O imóvel está mobiliado, pertence ao senhor, que estava almoçando, certo?
- Certíssimo – falei morrendo de rir – por dentro, é claro!
- E onde o senhor dorme, posso saber?
- Depende da ocasião. Algumas vezes, aqui; outras, na casa da minha namorada; fora as ocasiões que fico na minha casa, no Rio de Janeiro.
- Vamos simplificar – disse a moça demonstrando estar ficando impaciente -, onde o senhor trabalha?
- Eu não trabalho.
- E vive de quê, posso saber?
- Sou aposentado.
- Mas pra namorar o senhor ainda não se aposentou, pelo que estou vendo. Vai dormir aqui hoje?
- Vou, até o fim do mês.
- Então posso considerar, para o censo, que o senhor mora aqui.
- Não, não pode!
- E por que não, posso saber?
- Porque o censo já passou na minha casa do Rio e já informaram que eu moro lá. Se a senhora disser que eu moro aqui, o censo ficará com uma pessoa a mais. Afinal, eu não sou dois...
- Percebo que o senhor está se divertindo às minhas custas. Seu porteiro disse que o senhor mora aqui.
- O porteiro não sabe da minha vida.

   Em seguida, ela levantou-se da poltrona e saiu, não sem antes dizer um palavrão resmungado. O porteiro me contou que ela saiu dizendo que iria me denunciar por não colaborar com o censo.


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