SER VELHO É MUITO BOM!
Para quem sabe envelhecer, a lembrança dos
tempos de juventude não desperta saudade; no máximo, boas risadas. Acredito que
a maior sabedoria consiste em administrar bem a testosterona que restou –
sempre sobra alguma. Impossível é ser jovem e sábio; são coisas que não
combinam.
Como esse tema é quase inesgotável, vou
direto ao ponto que quero abordar: O direito de pensar, e, principalmente,
poder dizer o que penso.
Os velhos – falo dos que alcançaram 65 anos
ou mais – são bem mais seletivos. Eu, por exemplo, não cultivo amizades. Elas
não me interessam, só tentam fazer com que que eu seja como esperam que eu
seja. Como velho, sou como sou, e tenho vontade de ser.
Velho que se respeita, não tem medo de quase
nada, talvez apenas de ficar preso a um leito. A cama serve de abrigo ao amor
carnal, mas também é sala de espera da morte. Como sempre, são dois extremos
que são próximos.
Para começo de conversa, velho bem resolvido
é aquele que fica contente em conviver consigo; é só. Mentimos menos e nossa
intolerância é maior. O que mais me irrita nas pessoas é o fato de não
prestarem atenção ao que se fala, como se o idioma fosse o grego.
Ainda hoje, estava esperando para receber a
comida que encomendei, quando vi um bar bem em frente. Sabendo que era do mesmo
dono do restaurante onde eu tinha ido, perguntei ao garçom que hora ele (o bar)
abria as portas. O desgraçado apontou e disse: “já está aberto!”. Ora, que
estava aberto eu sabia, até porque estava cheio de gente bebendo e beliscando.
Ninguém presta atenção às palavras que você
diz, e responde coisas diferentes do que foi perguntado, como se a ‘anta’ fosse
você. Mas não pense que é só o pobre do garçom que é idiota; seus filhos também
agem dessa maneira, seus amigos, e, se você tiver mulher, essa é imbatível.
Acabo de contar a uma conhecida que não
pretendo voltar a pisar num avião, pois não vou a lugares onde não se possa
fumar, e, além disso, não viajo em “ônibus” que voa – é no que foram
transformados os aviões. Dois dias depois, a infeliz me convida para fazer uma
viagem, avisando que cada um paga as suas despesas. Ou ela não entendeu, ou eu
não fui claro.
Sempre fui amigo da leitura; acredite, é a
melhor companhia. Melhor até do que a música. Se um livro não está agradando, coloco-o
numa estante e esqueço dele. Mas você não pode – seria uma maravilha! – pôr
suas amigas, seus filhos, e outras pessoas numa estante – e esquecer deles lá.
Prefiro, como alguém já disse, ter um inimigo sábio do que um amigo ignorante.
O melhor da minha idade é não ter a
‘obrigação’ de agradar, de ser diplomata, de ser simpático, e não ter medo da
morte – nem da morrida nem da matada.
Com essa postura, elimino qualquer mulher que
venha demonstrar algum interesse por mim, exceto aquelas que posso e quero
pagar por seus ‘serviços’.
Um velho sábio, assim como eu (não sou
modesto), sofre um pouco por sentir que nasceu na época errada – antes do
século XXIII.
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