Comodista é o sujeito que sequer se dá ao trabalho de escolher uma profissão. Basta esperar que ela cai do céu no seu colo. Pelo menos enquanto Deus governar este país.
SER COMODISTA
Dar um sentido único às palavras no Brasil
não é muito fácil. Quase nenhuma tem apenas um significado. E tem mais: nem
todos são sinônimos, mesmo quando ‘quase’ querem dizer a mesma coisa. Portanto,
ser comodista nem sempre é o mesmo que ser preguiçoso.
Eu sou as duas coisas, mas não por causa da
idade; sempre fui assim. Que eu lembre, sou tudo isso desde os 15 anos. Estou
querendo dizer que entendo tudo das duas coisas.
Nada é definitivo, mas, até que me provem o
contrário, comodista é o sujeito que gosta de comodidade; cultua a própria
comodidade – no sentido de conforto. Pedir a um comodista para ir à rua e fazer
alguma coisa quase sempre representa um incômodo, que até pode virar
sacrifício. Exceto, é claro, quando quem pede é merecedor. Felizmente, para
mim, quase ninguém me faz sair da inércia.
Há quem considere, em alguns casos, que o
comodista é também um egoísta – o maldito ‘Aurélio’ é um dos que pensam assim.
Já o preguiçoso, este é lento como o ‘bicho preguiça’.
O desgraçado tem sede mas não levanta para ir buscar um copo-d’água. Eu sou só
um pouquinho assim, mas nunca cheguei a esse ponto. É mais no verão. Não pense
que é fácil reconhecer essas ‘qualidades’ em nós mesmos. Eu admito qualquer
coisa, pois sou maduro o suficiente para “não estar nem aí” para o que pensam.
Durante a vida, nosso gosto por certas coisas
e nossos hábitos podem mudar. Rara é a criança que aprecia o paladar da cebola.
Eu não fui diferente, mas hoje gosto, e gosto muito.
Na juventude, ia muito ao cinema – bons
tempos em que era fácil estacionar e, terminado o filme, seu carrinho estava no
mesmo lugar, esperando para levar você para casa; sem contar que o trânsito
era, bem, não era o que é hoje. Faz uns 15 anos que não entro num cinema. Meu
comodismo informa: logo esse filme estará na tevê.
Creio ter piorado nos últimos anos. Sei tudo
o que poderá causar algum aborrecimento, e recuso convites – do tipo “vá jantar
conosco”. Mas não pense que lamento ou sou menos feliz por isso. Só sigo minhas
próprias características.
Não vou dizer que a velhice não tem nada a
ver com esse comportamento. Até pode, como no meu caso, que tenho 3 hérnias de
disco e preciso tratar bem dessas meninas. Não raro eu as abençoo (tô falando
das hérnias), pois tenho a desculpa perfeita para não fazer esforço ou ser
cavalheiro.
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