CLARINDO E O COLISEU
O sucesso das lutas televisionadas - em que
homens viram bichos e a porrada come - está garantido, de acordo com o
pensamento do meu querido amigo Clarindo Benevides – um sem noção racional.
Passei os últimos quarenta anos assistindo apenas o Box dos pesos pesados, e
assim mesmo só as lutas decisivas entre os grandes nomes do... Vá lá, esporte.
Nunca imaginei que a censura liberaria... Ops!, sempre esqueço que não há mais
censura oficial. Bem, o que quero dizer é que acreditava que as lutas não
passavam pelos canais brasileiros porque éramos um país pacífico, antiviolência,
onde até mesmo os galos foram proibidos de entrar na arena. Reconheço que fui
ingênuo. Bastou breve papo com meu amigo para esclarecer todas as minhas
dúvidas.
- O que você acha dessas lutas na TV? – perguntei.
- Para quem acompanha com atenção a evolução dos
costumes, acho normal.
- Como normal? Toda essa brutalidade não é normal –
insisti.
- O problema não é a brutalidade. A mente dos homens
se adapta a tudo. As pessoas só estranham no princípio. É como a virgindade
para a mulher; a primeira vez é sempre um pouco tensa, dolorida, mas logo depois
habitua, acostuma, agrada e vicia – concluiu Clarindo com naturalidade e um
sorriso de Mona lisa nos lábios.
- Não sei não... Ainda não me acostumei – respondi.
- Não se preocupe, vai se acostumar e até mesmo
gostar.
- Mas é diferente. A mulher só sangra um pouquinho
na primeira vez, enquanto os lutadores saem do ringue – octógono, para ser
moderno – sempre machucados, muito machucados – ponderei.
- Em termos, em termos... Como no futebol, esses
“esportistas” podem ficar muito ricos. Mesmo que não fiquem, sempre ganham
dinheiro suficiente para se sustentar. Como diz o Silvio Santos, “Tudo por
dinheiro” – até mesmo apanhar.
- A diferença é que no futebol são pelo menos 22 em
campo, e no ringue apenas dois. Pouquíssimos são os beneficiados – argumentei.
- Aí é que você se engana! A mídia fatura alto, e, como
ela é ambiciosa, pretende faturar ainda mais. A Rede Globo investiu pesado na
promoção dessa modalidade de, digamos, entretenimento para psicopatas. Deslocou
seu homem mais caro para ajudar a popularizar o ‘esporte’. Para reforçar o
apelo, aparecem nos noticiários artistas que influenciam a opinião pública
torcendo como os romanos faziam nos tempos em que o Coliseu era ‘O’ Coliseu.
Daqui a um tempo, pouco tempo, você me conta se já está assistindo esse tipo de
programação.
Na foto abaixo, percebemos que alguns 'bichinhos' participavam da carnificina promovida pelos césares para manter o povão distraído. Qualquer semelhança com os políticos do século 21 é mera coincidência. Era o mesmo que ir ao cinema, nos dias de hoje. Bem, o mesmo não era: o 'cinema' romano era gratuito.
Finalmente
compreendi a verdadeira verdade: “Tudo por dinheiro”, inclusive gostar e fazer
hoje o que condenava ontem. Os Césares fizeram escola.
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