O simpático que aparece na foto não se preocupa com roupas, automóveis, ou qualquer coisa que seja comprável. No entanto, ele está sempre sorrindo; de dia por causa do sol; de noite, pela lua e as estrelas. Ah, e por saber que cada um é cíclico, sua vida não conhece a monotonia. Está contente com o que pode ter.
ALEGRIA PASSAGEIRA: COMPRAR
Estou falando da alegria que sentimos ao
comprar – comprar qualquer coisa, cara ou barata, dependendo da condição sócio
econômica da pessoa. Os muito abastados não ficam contentes ao comprar um (ou
mais um) automóvel, a menos que seja o mais caro que existe.
Isso me lembra um desses árabes estúpidos,
cheio de petrodólares, que no seu país quase não havia estradas e ruas
pavimentadas (creio ter lido sobre o assunto uns 40 ou mais anos atrás), que
possuía 10 Rolls Royces em sua garagem sitiada por areia; um era de prata – ou
de ouro, não me recordo.
A estupidez humana não aceita limites.
Tenho visto pobres que adquirem o seu ‘quatro
rodas’, fabricado 15 anos passados, e cuja manutenção sai caríssimo – visto que
semanalmente visitam o mecânico da esquina. Para esses, ter um carro é como
subir na escala social. Sentem-se importantes.
Eu próprio já fui estúpido, não no nível dos
dois exemplos citados, mas num nível intermediário, o que não diminui minha
estupidez. Cometia dois pecados: fazia uma compra desnecessária e alimentava
minha vaidade.
Mas minha teoria de que o ser humano é um
idiota não se refere apenas a automóveis. Falo de tudo que pode ser comprado,
inclusive amigos e mulheres. Pode ser um equipamento de som, ou uma tevê de 200
polegadas. A cada degrau de preço que subimos ao comprar, acreditamos subir
socialmente. Só a educação e a maturidade, juntas, são capazes de pôr um freio
nessa mania de consumir.
O consumo desnecessário é como beber da água
salgada do mar – quanto mais bebemos, mais sede sentimos. Há quem considere
isso uma doença. Eu penso diferente. Insisto na tecla da educação e da
maturidade, sem entretanto duvidar que possa se transformar em uma doença.
Me vem à lembrança um episódio de um amigo de
infância, da minha idade, que já faleceu. Meu apartamento era repleto de
tapetes orientais - que sempre achei e acho lindos. O amigo, que nasceu rico e
perdeu tudo, casou sempre com mulheres ricas. Seu Deus era o dinheiro.
Telefonou para mim do Estado onde morava, e, sem a menor noção, disparou esta
pérola: “Sabes onde estou com os pés? Num tapete persa! Já pensaste o que isso
significa? Aposto que nunca experimentaste este prazer”. Senti pena. Só.
É claro que comprar algo que desejamos
proporciona muito prazer, mas é um prazer efêmero, não se sustenta por muito
tempo. Já o prazer que sinto ao escrever é constante, inesgotável. Cada tema
abordado me traz uma alegria como se eu tivesse descoberto a pólvora. Isso me
convenceu que o maior prazer está em criar. E não ganho dinheiro algum para
escrever.