O DIA “D”
Não estou falando do desembarque das tropas
aliadas na Normandia, durante a 2ª guerra mundial – dia em que, afirmam alguns,
foi decidida a guerra, mas há controvérsias. É o mesmo que dizer que o dia está
quente ou frio. Ninguém pode ter certeza. Para os homens, está um pouco quente.
Para as mulheres – elas são mais friorentas -, aquela brisa que nos toca a
cinco quilômetros por hora já pede um agasalho de lã.
Mas o dia “D” a que me refiro é o dia em
que, por qualquer razão, você decide que é hora de atender o convite daqueles
amigos que moram na Barra da Tijuca. O dia amanheceu sem nuvens, o céu estava
azul de morrer, você se encheu de coragem e pensou que era exagero de quem
tinha ido lá e reclamou da ‘viagem’. Que viagem, cara pálida? A Barra fica na sua cidade e é onde mora tudo
quanto é celebridade. Lá é o lugar do país onde fica a maior concentração de
shoppings do planeta. É verdade que, apesar do luxo aparente, a ‘decoração’ da
Barra é meio brega, mas todo bairro grande tem seu pedacinho cafona. E daí?
Você começa a lembrar que esteve lá quando
era criança. Nesse tempo, pouca gente tinha carro e o programa era ir até lá
para comer aqueles camarões enormes nas barraquinhas espalhadas pela orla. Não
tinha mais nada. Apesar de não ser muito velho, esse tempo está longe e sua
memória só guardou essa parte dos camarões.
Mas a Barra mudou muito e parece que você já
esteve lá muitas vezes. É a televisão, que toda hora projeta imagens do bairro,
para mostrar acidentes espetaculares. Há poucos anos o atleta sexual Ronaldo
Nazário foi notícia por ter dado uma simples carona para três travestis que ele
pensava que eram inocentes meninas moradoras do bairro. Nessa ocasião, Tvs e
jornais mostraram fotos do lugar onde ele, alta madrugada, confundiu tudo. Fora
esses breves momentos, você nada sabia sobre ir à Barra.
Morando no Flamengo, você não estava atento
para o fato de que teria que atravessar tantos bairros. A conferir: Barra, São
Conrado, Leblon, Ipanema, Arpoador, Copacabana, Botafogo, e finalmente o seu
Flamengo. Cada bairro com seus congestionamentos e perigos. Afinal, esse é o
Rio de janeiro, com suas belezas e seus sustos. Uma viagem que quando você faz,
não sabe se chega ao destino.
Não posso deixar de mencionar a famosa
Avenida das Américas, orgulho dos moradores locais. É grande, larga e bonita. Para
quem gosta de sentir a adrenalina, é melhor do que voar de asa delta. São
várias pistas de corridas, com tantas entradas e saídas que fica fácil alguém
se perder ou entrar errado. Atenção: quando parar nos semáforos, feche os
vidros e as cortinas do carro. Eles são os locais preferidos dos assaltantes.
A Barra é como Miami, com gente de todo
tipo. Qualquer pessoa que more em Madureira, Marechal Hermes, Méier, e até
Timbuktú, logo que ganha um dinheirinho, compra uma ‘varanda’ lá, que é onde
moram muitas celebridades. Todo apartamento situado no bairro têm uma varanda
maior que o resto do AP. Alguns moradores, vaidosos, chegam a convidá-lo para
“conhecer a minha varanda”. Ficam só esperando que você exclame: “Que
maravilha! Sua varanda é enorme!”. Bem, esse cômodo só é usado quando chega
visita. Geralmente passa os dias empoeirada, e, para ser usada, precisaria uma
faxina diária.
Mas o dia acabou e você sobreviveu. Já faz
até planos para voltar ao bairro, quando completar 85 anos – torcendo para não
viver tanto.
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