domingo, maio 19, 2013

MÃE MULHER DEVIA SER COMO MÃE URSA

Mamãe ursa é como todas as mães, quando se trata de protejer os filhos. A diferença é que ela sabe a hora de parar de se meter na vida deles, coisa que as humanas não aprenderam.
 
     MAMÃE URSA
 
     Eu poderia ter escolhido outro bicho, qualquer outro que fosse dotado de um mínimo de inteligência – é que não sei se insetos raciocinam ou são apenas instintos que se movem.
 
     Estou pretendendo falar de amor, mas do tipo mãe-filho e filho-mãe. Esse amor existe mesmo? Acho que não! Mas então... Eu sei muito bem o que você está pensando. Você aprendeu que esse é o único amor que não é egoísta, que é totalmente desinteressado, que é puro. Nem tudo o que aprendemos desde cedo significa que é verdadeiro – até por que não há verdade absoluta; cada um tem a sua. O problema é que mesmo sendo mentiras, fica muito difícil para alguém livrar-se da ‘lavagem cerebral’ sofrida na infância. Muitas vezes esses ensinamentos nos cegam a ponto de impedir que tenhamos um raciocínio lógico, pragmático, real.
     Qualquer religião serve para exemplificar o que estou dizendo. Quem foi educado numa fé, dificilmente deixará de acreditar que Deus existe. Pode até trocar de Deus, mas é quase impossível viver sem Ele. Depois desse ‘aprendizado’, perdemos nossa liberdade de pensar livremente. O Deus que você nunca viu ou ouviu determinará, daí por diante, o certo e o errado. Danem-se o instinto e o desejo que teimam em viver dentro de você - já escravizado por uma ideia que não é sua.
 
     Religião não significa amor. Religião é medo. Medo de uma punição que não existe. As relações ‘mãe-filho-mãe’ também não são feitas de amor, são feitas de dogmas que aprendemos faz tempo.
 
     Mamãe ursa, dizem, ama seus filhotes. Será amor ou comportamento atávico? Não creio que se trate de amor. Se fosse, elas não se separariam dos filhotes quando estes estivessem prontos para enfrentar ‘a vida como ela é’. Esse é o momento em que elas livram-se deles e formam uma nova família. É a vida que segue. Ursos são inteligentes. E práticos.
     Humanos são diferentes, infelizmente. Deixam-se influenciar pelo que os outros falam e acabam por se submeter a ideais que, no fundo, não são seus. Talvez esteja aí o grande problema da humanidade: a ‘fala’. A fala pode convencer, mas não necessariamente satisfaz. Podemos viver como os outros recomendam, mas isso não significa que gostamos de ser assim. Por qual motivo você acha que tudo que é proibido nos excita? O ser humano gosta de transgredir, de mostrar que faz o que quer, apesar da proibição explícita ou mesmo da implícita nos costumes sociais.
 
     Somos o que somos, mesmo que não tenhamos consciência disso. Mães não gostam de perder autoridade. Acreditam que nos ‘deram’ a vida, quando, na maioria das vezes, na grande maioria, elas buscavam apenas o prazer – filho é apenas consequência. Nem sempre desejada e agradável, é bom que se diga.
     Mamãe ursa não espera agradecimento por ter criado seus filhotes. Nem vai cobrar essa ‘dívida’, pelos próximos cinco minutos ou  pela vida toda, como as mães humanas o fazem. Mãe-mulher faz questão que você seja o filho que ela idealizou. E, nos bastidores, trabalha muito para que seja assim. Mães vivem em conflito permanente com elas mesmas, por desejarem viver a própria vida e acreditarem que têm obrigações com os filhos. Muitas vezes esse conflito acaba por se transformar em raiva, mas isso elas afastam do pensamento e nunca irão admitir.
 
     E os filhos? Esses, coitados, nasceram e logo são ensinados que mãe é para ser amada por toda a vida, mesmo que elas não mereçam esse sentimento. É aí que a porca torce o rabo. Filho é ensinado a não ver certos defeitos – especialmente grandes defeitos – nas suas mães. “Mãe é santa e deve ser tratada como tal”. Cruz Credo! Coisa mais absurda.
     Se um filho rebelar-se contra essa tirania emocional, passa a ser “um filho ingrato”. Não são raras às vezes em que um filho odeia sua mãe, mas aprendeu a disfarçar para que os outros não o julguem mal. Conheço muitos, muitos mesmo, que vivem essa triste situação incômoda, por vezes sacrificante.
     Se você vive essa situação difícil, acredite que você pode se libertar. Para isso, o mais importante é reconhecer que sua mãe não está com essa bola toda. Admitir, por mais duro que seja essa constatação, que ela é egoísta (todas elas o são), injusta, negligente, e principalmente uma grande mentirosa. Para as mães, os filhos representam a continuação da própria vida delas. E sempre são culpados pelos sacrifícios que elas fizeram “por eles”. Chega a ser ridículo!
 
     Pais raramente sofrem essa mesma psicopatia das mães. Pais são mais parecidos com mamãe ursa. Em países mais ‘avançados’, pais e mães estimulam seus filhos a sair de casa quando atingem a idade certa. Essa escravidão sentimental é mais comum em lugares mais atrasados. Gostar por toda a vida é possível. Amar para sempre é coisa que não existe. Qualquer dependência emocional é a anulação da personalidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário