Mamãe ursa é como todas as mães, quando se trata de protejer os filhos. A diferença é que ela sabe a hora de parar de se meter na vida deles, coisa que as humanas não aprenderam.
MAMÃE URSA
Eu poderia ter escolhido outro bicho,
qualquer outro que fosse dotado de um mínimo de inteligência – é que não sei se
insetos raciocinam ou são apenas instintos que se movem.
Estou pretendendo falar de amor, mas do
tipo mãe-filho e filho-mãe. Esse amor existe mesmo? Acho que não! Mas então...
Eu sei muito bem o que você está pensando. Você aprendeu que esse é o único
amor que não é egoísta, que é totalmente desinteressado, que é puro. Nem tudo o
que aprendemos desde cedo significa que é verdadeiro – até por que não há
verdade absoluta; cada um tem a sua. O problema é que mesmo sendo mentiras,
fica muito difícil para alguém livrar-se da ‘lavagem cerebral’ sofrida na
infância. Muitas vezes esses ensinamentos nos cegam a ponto de impedir que
tenhamos um raciocínio lógico, pragmático, real.
Qualquer religião serve para exemplificar
o que estou dizendo. Quem foi educado numa fé, dificilmente deixará de
acreditar que Deus existe. Pode até trocar de Deus, mas é quase impossível
viver sem Ele. Depois desse ‘aprendizado’, perdemos nossa liberdade de pensar
livremente. O Deus que você nunca viu ou ouviu determinará, daí por diante, o
certo e o errado. Danem-se o instinto e o desejo que teimam em viver dentro de
você - já escravizado por uma ideia que não é sua.
Religião não significa amor. Religião é
medo. Medo de uma punição que não existe. As relações ‘mãe-filho-mãe’ também
não são feitas de amor, são feitas de dogmas que aprendemos faz tempo.
Mamãe ursa, dizem, ama seus filhotes. Será
amor ou comportamento atávico? Não creio que se trate de amor. Se fosse, elas
não se separariam dos filhotes quando estes estivessem prontos para enfrentar ‘a
vida como ela é’. Esse é o momento em que elas livram-se deles e formam uma
nova família. É a vida que segue. Ursos são inteligentes. E práticos.
Humanos são diferentes, infelizmente.
Deixam-se influenciar pelo que os outros falam e acabam por se submeter a
ideais que, no fundo, não são seus. Talvez esteja aí o grande problema da
humanidade: a ‘fala’. A fala pode convencer, mas não necessariamente satisfaz.
Podemos viver como os outros recomendam, mas isso não significa que gostamos de
ser assim. Por qual motivo você acha que tudo que é proibido nos excita? O ser
humano gosta de transgredir, de mostrar que faz o que quer, apesar da proibição
explícita ou mesmo da implícita nos costumes sociais.
Somos o que somos, mesmo que não tenhamos
consciência disso. Mães não gostam de perder autoridade. Acreditam que nos
‘deram’ a vida, quando, na maioria das vezes, na grande maioria, elas buscavam
apenas o prazer – filho é apenas consequência. Nem sempre desejada e agradável,
é bom que se diga.
Mamãe ursa não espera agradecimento por
ter criado seus filhotes. Nem vai cobrar essa ‘dívida’, pelos próximos cinco
minutos ou pela vida toda, como as mães
humanas o fazem. Mãe-mulher faz questão que você seja o filho que ela
idealizou. E, nos bastidores, trabalha muito para que seja assim. Mães vivem em
conflito permanente com elas mesmas, por desejarem viver a própria vida e
acreditarem que têm obrigações com os filhos. Muitas vezes esse conflito acaba
por se transformar em raiva, mas isso elas afastam do pensamento e nunca irão
admitir.
E os filhos? Esses, coitados, nasceram e
logo são ensinados que mãe é para ser amada por toda a vida, mesmo que elas não
mereçam esse sentimento. É aí que a porca torce o rabo. Filho é ensinado a não
ver certos defeitos – especialmente grandes defeitos – nas suas mães. “Mãe é
santa e deve ser tratada como tal”. Cruz Credo! Coisa mais absurda.
Se um filho rebelar-se contra essa tirania
emocional, passa a ser “um filho ingrato”. Não são raras às vezes em que um
filho odeia sua mãe, mas aprendeu a disfarçar para que os outros não o julguem
mal. Conheço muitos, muitos mesmo, que vivem essa triste situação incômoda, por
vezes sacrificante.
Se você vive essa situação difícil,
acredite que você pode se libertar. Para isso, o mais importante é reconhecer
que sua mãe não está com essa bola toda. Admitir, por mais duro que seja essa
constatação, que ela é egoísta (todas elas o são), injusta, negligente, e
principalmente uma grande mentirosa. Para as mães, os filhos representam a
continuação da própria vida delas. E sempre são culpados pelos sacrifícios que
elas fizeram “por eles”. Chega a ser ridículo!
Pais raramente sofrem essa mesma
psicopatia das mães. Pais são mais parecidos com mamãe ursa. Em países mais
‘avançados’, pais e mães estimulam seus filhos a sair de casa quando atingem a
idade certa. Essa escravidão sentimental é mais comum em lugares mais
atrasados. Gostar por toda a vida é possível. Amar para sempre é coisa que não
existe. Qualquer dependência emocional é a anulação da personalidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário