Toda lembrança traz consigo a melancolia. O fato de que "poderia ter sido" é sempre desagradável. Viver não é recordar. Viver é seguir em frente com coragem.
É BOM LEMBRAR?
Frases do tipo “Recordar é viver” são uma
tolice. Lembranças geralmente nos levam a constatação de como fomos estúpidos.
Na melhor hipótese, podem apenas nos mostrar como não agir em determinadas
situações. Outra frase de efeito, idiota, é a que diz “Não me arrependo do que
fiz, mas apenas do que deixei de fazer”. Nem preciso comentar essa.
As lembranças, boas ou não, podem ser úteis,
como seria uma aula sobre autoconhecimento. Todos mudamos de comportamento no
decorrer da vida. Mudamos nosso modo de pensar, de agir, e principalmente de
reagir. Quero dizer, quase todos; muita gente estaciona para abastecer e o
motor morre. Ficam paradas, empurram o carro até o estacionamento e não
conseguem sair do lugar. Passam a vida pensando da mesma maneira, ou demoram
muito para aceitar uma nova realidade. Quando finalmente aceitam, já existe
outra mais atual e aceita. Vivem no atraso.
Isso não é raro; se você pensar um pouco,
vai ver que conhece muita gente assim, ou quase assim.
Não devemos nos deter muito tempo nas coisas
que já aconteceram; nem nas que podem ou não vir a acontecer. O importante é
sabermos avaliar nossa própria evolução – se foi célere ou morosa.
Mudar de comportamento não significa mudar
de personalidade. Pessoas decentes, mesmo escorregando, não caem, continuam a
ser decentes. O mau-caráter, mesmo quando eventualmente pratica algo de bom,
continua sendo um mau-caráter. E assim será pelo resto de suas vidas.
Um problema que as lembranças nos trazem é a
desagradável sensação de que fomos muito idiotas. Ter saudade de coisas
passadas não faz bem para a saúde mental. Uma coisa boa, que nos deixou
contente, jamais volta. É triste. Até porque somos outra pessoa, com o passar
do tempo. Se você não mudou, é hora de ficar preocupado. Fomos uma pessoa que
não existe mais. Para o bem ou para o mal. O passado ainda nos traz a percepção
de que ‘nunca aproveitamos determinada etapa com sabedoria’. Hoje, curtiríamos
muito mais e melhor. Não é uma sensação agradável.
Quanto às lições que aprendemos, elas apenas
‘surgem’ sem que precisemos nos deter revivendo-as. É como um ‘reflexo
condicionado’. Reagimos automaticamente. Pavlov, o cientista russo que fez experimentos
sobre isso, desenvolveu a teoria aceita até nossos dias.
Você sabe a hora da sua morte? Acho que
isso prova que só o momento atual importa. Não perco tempo com lembranças.
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