segunda-feira, setembro 02, 2013

CARA DE EMPREGADA DOMÉSTICA

Mudar as leis é apenas um pequeno passo em direção à novos hábitos. O que está fixado na mente, demora mais para sair dela.
 
   CARA DE DOMÉSTICA
 
   Outro dia, em algum lugar, li ou ouvi uma notícia sobre uma reclamação feita pela associação das empregadas domésticas, a propósito de alguém ter dito que “fulana tem cara de doméstica”.
   Considero uma estupidez a reclamação.
   É o velho ‘patrulhamento’, que continua vivo e atuante. Há formas de falar ou exemplificar que nada mais são do que fotografias de um tempo que ainda permanece vivo em nossas mentes.
 
   Vou explicar. Empregadas domésticas são pessoas simples, de origem humilde, utilizadas largamente na função de servir em residências. Em geral foram e continuam sendo, em sua grande maioria, feinhas e sem gosto para vestir. Antigamente, eram raras as que sabiam ler e escrever. Usando uma linguagem clara, era como se fossem cidadãs de segunda classe.
   Trabalhavam num regime de quase escravidão, consequência da (falando em termos históricos) própria escravidão. Eu sei, elas começaram a estudar e ter ambições maiores – ou mais dignas, como querem algumas. É justo. Só que mudanças no comportamento social são lentas. É preciso ter paciência. Trombar com antigos hábitos é o mesmo que retardar qualquer processo em andamento.
 
   Discriminar é errado, mas é muito tênue a linha que separa uma velha forma de linguagem, que já foi bastante natural, da discriminação mesmo. O cinema brasileiro, assim como a literatura, deram uma grande contribuição para esse tipo de comparação referencial. Fora o fato de que todos os humanos discriminam os diferentes. Mudar demanda tempo.  
   Hoje em dia, o sonho das empregadas mais jovens é ter outra profissão que elas mesmas considerem mais dignificantes. Já percebi que essas mocinhas agora exercem a função de ‘caixas de supermercado’, atendentes de consultório médico, ou vendedoras de lojas classe ‘C’. Se elas preferem, bom para elas. Há vantagens e desvantagens, como em qualquer escolha.
 
   Só espero que não me processem pela comparação, mas, se quiserem processar, fiquem à vontade.
    

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