Mudar as leis é apenas um pequeno passo em direção à novos hábitos. O que está fixado na mente, demora mais para sair dela.
CARA DE DOMÉSTICA
Outro dia, em algum lugar, li ou ouvi uma
notícia sobre uma reclamação feita pela associação das empregadas domésticas, a
propósito de alguém ter dito que “fulana tem cara de doméstica”.
Considero uma estupidez a reclamação.
É o velho ‘patrulhamento’, que continua vivo
e atuante. Há formas de falar ou exemplificar que nada mais são do que
fotografias de um tempo que ainda permanece vivo em nossas mentes.
Vou explicar. Empregadas domésticas são
pessoas simples, de origem humilde, utilizadas largamente na função de servir
em residências. Em geral foram e continuam sendo, em sua grande maioria,
feinhas e sem gosto para vestir. Antigamente, eram raras as que sabiam ler e
escrever. Usando uma linguagem clara, era como se fossem cidadãs de segunda
classe.
Trabalhavam num regime de quase escravidão,
consequência da (falando em termos históricos) própria escravidão. Eu sei, elas
começaram a estudar e ter ambições maiores – ou mais dignas, como querem
algumas. É justo. Só que mudanças no comportamento social são lentas. É preciso
ter paciência. Trombar com antigos hábitos é o mesmo que retardar qualquer
processo em andamento.
Discriminar é errado, mas é muito tênue a
linha que separa uma velha forma de linguagem, que já foi bastante natural, da
discriminação mesmo. O cinema brasileiro, assim como a literatura, deram uma
grande contribuição para esse tipo de comparação referencial. Fora o fato de
que todos os humanos discriminam os diferentes. Mudar demanda tempo.
Hoje em dia, o sonho das empregadas mais
jovens é ter outra profissão que elas mesmas considerem mais dignificantes. Já
percebi que essas mocinhas agora exercem a função de ‘caixas de supermercado’,
atendentes de consultório médico, ou vendedoras de lojas classe ‘C’. Se elas
preferem, bom para elas. Há vantagens e desvantagens, como em qualquer escolha.
Só espero que não me processem pela
comparação, mas, se quiserem processar, fiquem à vontade.
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