sábado, janeiro 25, 2014

OS SUICIDAS

Walmor Chagas foi um grande artista e intelectual. Todos o admiram até hoje. Ao passar dos oitenta, sentindo a doença tomar conta do seu corpo e mente, matou-se.


  O PLANO ‘B’
 
  O escritor Lima Barreto dizia: “O que me impede de consumar o ato do suicídio é o hábito de viver, é a covardia, é a minha natureza débil e esperançada”. Pedro Nava, também escritor, suicidou-se. Stefan Zweig, um dos autores mais vendidos no mundo, optou pelo suicídio. E assim, outros milhares – da antiguidade aos dias atuais.
  Ao contrário do que julgam as pessoas, intelectuais são campeões do ranking de suicidas justamente por serem mais lúcidos e conscientes. As religiões cristãs difundiram a ideia de que estamos aqui para sofrer, e devemos aceitar isso como sendo o destino de toda a humanidade – só assim seríamos aceitos no “reino de Deus”.
  Estaremos então agindo erradamente ao tentar a felicidade? Devemos nos conformar com tudo de ruim que nos acontece? Então sermos infelizes é um desígnio divino? Essa é uma ideia estúpida, própria dos menos esclarecidos.
 
  Quem comete suicídio está insatisfeito com a própria vida e/ou com o destino da humanidade. Para tirarmos a nossa vida, é necessário muita dignidade, muita coragem. Eu mesmo já fui um potencial suicida. Hoje, encaro o suicídio como uma opção pessoal, uma escolha que fazemos pelo menos uma vez na vida. Ninguém deve ser obrigado a viver infeliz.
 
  A difícil resposta é quando nos perguntamos o que vem a ser a felicidade. Não existe uma resposta. Qualquer tentativa de explicá-la é equivocada. Cada ser humano carrega dentro de si um universo de sentimentos, emoções e mistérios que jamais será conhecido de maneira absoluta. Não existe a receita mágica. Existem caminhos que podemos seguir, que escolhidos ou não, podem aumentar ou minorar nosso sofrimento.
 
  Será que a palavra alienação tem algo a ver com aliens? Meu caminho para ser feliz passa por uma enorme alienação relativa às coisas que mais afetam os humanos, como poder, amor, dinheiro, amizade ou qualquer outra emoção. Acaso você acredita mesmo que todo pobre é infeliz? Que quem não ama ou tem poucos amigos vive mal? Se você pensa assim, significa que depende dos outros, e, portanto, é um idiota.
 
  Qualquer satisfação, qualquer prazer é passageiro, sempre cai numa rotina. Para que preocupamo-nos com alegrias efêmeras? Antigamente eu acreditava que 2 ou 3 coisas me deixariam completamente realizado. Pois bem, eu tive essas duas ou três coisas e continuei triste, insatisfeito. Ser bem- apessoado, rico e ter muitas mulheres não satisfez minha sede.
  O que me deixa contente? Observar o próximo e suas atitudes e reações. O desdém que sinto pelo que me é oposto. Saber que não dependo de nada nem de ninguém, e saber que sempre posso contar com a arma do suicídio, quando a vida incomodar. É o meu plano ‘B’, sempre disponível.
 
 
Na foto ao lado, o escritor Ernest Hemingwai, um dos mais lidos romancistas do século XX. Como o nosso querido Walmor Chagas, chegou a uma idade que julgou ser o momento de acabar com tudo. Continua a ser admirado até hoje.
 
 
 
 

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