PROFISSÃO E CASAMENTO
As coisas hoje são diferentes. Uma profissão
é como o casamento: não é para a vida toda. Bem, não tem que ser, apesar de que
até pode. Como assim, pode? Vou tentar explicar: Um casamento pode durar uma
vida, por diversos motivos. O mais comum é a conveniência. Mas há outros, como
o dinheiro, os filhos, e até mesmo quando é uma ‘exigência’ da profissão –
políticos sempre evitaram separar-se dos seus cônjuges, passando uma imagem de
estabilidade emocional e bom caráter aos eleitores.
Há também um outro motivo, raramente
admitido: a falta de coragem. Tanto da parte do homem como da mulher. Casar
requer coragem, mas representa a vitória da esperança sobre a razão. Separar é
mais difícil, tanto no aspecto emocional como no aspecto prático. Dá muito
trabalho e a liberdade pode vir acompanhada pela diminuição do poder aquisitivo
de ambos. Separar sempre custa caro, em algum sentido.
Não posso deixar de falar ainda sobre os
efeitos de uma cultura que aos poucos vai sendo ultrapassada - mas que ainda
teima em persistir, que é quando, principalmente a mulher, mas não só ela, sente-se
um ser incompleto sem um companheiro ao lado. De preferência que seja um
companheiro oficializado por leis que a cada dia vão ficando mais e mais
obsoletas.
Mas então, qual a semelhança entre o
casamento e a profissão escolhida, sob um olhar, digamos, antropológico? Eu já
mostrei, em outros artigos, que todos temos mais talentos do que imaginamos.
Mudar de profissão durante a vida já foi tabu.
Para início de conversa, uma profissão é
‘escolhida’ numa idade em que ainda não sabemos bem o que queremos. Muitas
vezes a competitividade da vida adulta nos ‘joga’ para cá ou para lá, sem que
tenhamos maturidade para fazer a escolha certa – ou, eu diria, uma delas.
Pesquisas bem aceitas demonstram que a
maioria das pessoas está na profissão errada. Ou alcançaram o seu limite de
competência e precisam de novos desafios. Alguém se recorda do livro “Todo
Mundo é Incompetente, Inclusive Você”? Pois é, nem todo físico será um novo
Einstein. Eu iria além: nem todo físico queria de fato ser físico.
O problema é que mudar de profissão, no meio
do caminho, é complicado. O recomeço sempre traz problemas e dificuldades
inerentes a qualquer começo. Como o divórcio, é uma vida diferente à nossa
frente que nem sempre temos coragem para encarar. Necessita que estejamos
maduros o bastante, e muito conscientes da decisão tomada. Mas, acredite, vale
à pena. Falo das duas opções, o divórcio e uma profissão nova.
Em ambos os casos – divórcio e mudança de
profissão, a comodidade é sempre a culpada. A tendência da maioria é manter o
atual estado das coisas, simplesmente por ser mais fácil e seguro. Viveremos
uma vida sem grandes emoções, tentando ser felizes insistindo no impossível.
Certa ocasião, li a seguinte frase: “A vida é
um processo de vir a ser, uma combinação de estados que precisamos atravessar.
As pessoas falham porque desejam eleger um estado e ficar nele”.
Para os homens, qualquer mudança é
assustadora, temerária. Preferimos, no geral, comer feijão com arroz todos os
dias do que experimentar novos sabores. Somos conservadores, bem mais do que
pensamos. Um conservador é, segundo o ‘pai dos burros’, “aquele que é favorável
à conservação da situação vigente, opondo-se a reformas radicais”. Eu
acrescentaria: mesmo que essas reformas acenem com uma vida melhor, mas cujos
caminhos nos são desconhecidos.
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