terça-feira, janeiro 28, 2014

A CORAGEM DE MUDAR

O que nossos garotos precisariam entender é que eles passarão, sem a menor dúvida, pelos mesmos problemas que os dos que hoje são mais 'velhos'. Seus próprios filhos se encarregarão de ensiná-los. É por aí que a banda toca.


  PROFISSÃO E CASAMENTO
 
  As coisas hoje são diferentes. Uma profissão é como o casamento: não é para a vida toda. Bem, não tem que ser, apesar de que até pode. Como assim, pode? Vou tentar explicar: Um casamento pode durar uma vida, por diversos motivos. O mais comum é a conveniência. Mas há outros, como o dinheiro, os filhos, e até mesmo quando é uma ‘exigência’ da profissão – políticos sempre evitaram separar-se dos seus cônjuges, passando uma imagem de estabilidade emocional e bom caráter aos eleitores.
 
  Há também um outro motivo, raramente admitido: a falta de coragem. Tanto da parte do homem como da mulher. Casar requer coragem, mas representa a vitória da esperança sobre a razão. Separar é mais difícil, tanto no aspecto emocional como no aspecto prático. Dá muito trabalho e a liberdade pode vir acompanhada pela diminuição do poder aquisitivo de ambos. Separar sempre custa caro, em algum sentido.
 
  Não posso deixar de falar ainda sobre os efeitos de uma cultura que aos poucos vai sendo ultrapassada - mas que ainda teima em persistir, que é quando, principalmente a mulher, mas não só ela, sente-se um ser incompleto sem um companheiro ao lado. De preferência que seja um companheiro oficializado por leis que a cada dia vão ficando mais e mais obsoletas.
 
  Mas então, qual a semelhança entre o casamento e a profissão escolhida, sob um olhar, digamos, antropológico? Eu já mostrei, em outros artigos, que todos temos mais talentos do que imaginamos. Mudar de profissão durante a vida já foi tabu.
  Para início de conversa, uma profissão é ‘escolhida’ numa idade em que ainda não sabemos bem o que queremos. Muitas vezes a competitividade da vida adulta nos ‘joga’ para cá ou para lá, sem que tenhamos maturidade para fazer a escolha certa – ou, eu diria, uma delas.
 
  Pesquisas bem aceitas demonstram que a maioria das pessoas está na profissão errada. Ou alcançaram o seu limite de competência e precisam de novos desafios. Alguém se recorda do livro “Todo Mundo é Incompetente, Inclusive Você”? Pois é, nem todo físico será um novo Einstein. Eu iria além: nem todo físico queria de fato ser físico.
  O problema é que mudar de profissão, no meio do caminho, é complicado. O recomeço sempre traz problemas e dificuldades inerentes a qualquer começo. Como o divórcio, é uma vida diferente à nossa frente que nem sempre temos coragem para encarar. Necessita que estejamos maduros o bastante, e muito conscientes da decisão tomada. Mas, acredite, vale à pena. Falo das duas opções, o divórcio e uma profissão nova.
 
  Em ambos os casos – divórcio e mudança de profissão, a comodidade é sempre a culpada. A tendência da maioria é manter o atual estado das coisas, simplesmente por ser mais fácil e seguro. Viveremos uma vida sem grandes emoções, tentando ser felizes insistindo no impossível.
  Certa ocasião, li a seguinte frase: “A vida é um processo de vir a ser, uma combinação de estados que precisamos atravessar. As pessoas falham porque desejam eleger um estado e ficar nele”.
 
  Para os homens, qualquer mudança é assustadora, temerária. Preferimos, no geral, comer feijão com arroz todos os dias do que experimentar novos sabores. Somos conservadores, bem mais do que pensamos. Um conservador é, segundo o ‘pai dos burros’, “aquele que é favorável à conservação da situação vigente, opondo-se a reformas radicais”. Eu acrescentaria: mesmo que essas reformas acenem com uma vida melhor, mas cujos caminhos nos são desconhecidos.
 

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