Millôr foi um sábio. Escritor e frasista incomparável, faz muita falta ao Brasil, especialmente no combate à hipocrisia. Gostaria de ouvi-lo sobre essas manifestações que ocorrem, com espancamento de coronel e tudo.
CADA ESCRITOR É ÚNICO
Melhor dizendo, quase único. Tony Bellotto,
numa entrevista à tevê, disse que não planeja muito o que vai acontecer com os
personagens de suas histórias – “eles, com o passar do tempo, ficam mais
independentes e adquirem personalidade própria”. Penso como ele. Isso acontece,
eu acho, quando o autor submerge totalmente na ‘alma’ da criatura fictícia. Não
acredito em alguém com vida planejada.
Nunca li nada escrito pelo Tony – não sei se
foi falta de oportunidade, tempo, essas coisas que usamos como desculpa. Só se
for uma crônica ou um conto. Não leio mais romances, estou em outra fase. Estou
aprendendo como escrever crônicas, e principalmente, como não escrevê-las.
Enquanto isso, temos escritores do ‘outro
time’, aqueles que planejam tudo, inclusive o final exato da história, que
geralmente é uma história idiota. É o caso do Jô Soares, que deve ter vendido
mais livros em noites de autógrafos do que durante anos. Maldade minha? Talvez.
Mas já li escritos curtos dele e achei
ótimos. É um grande comunicador ao vivo, mas tem uma equipe nota 10, que ajuda
inclusive a torná-lo, aos olhos do telespectador, com uma cultura maior do que
de fato é.
Tentei ler um dos seus livros e não consegui
continuar depois das primeiras páginas – igualzinho ao que aconteceu com os
livros do Paulo Coelho.
Dias desses li uma declaração (não recordo o
autor) de um homem de grande sabedoria que disse “Os que vendem mais livros
geralmente não são os melhores escritores”. Eu acrescento que esse é um
fenômeno mundial. Há exceções, mas a regra é essa. Quanto mais ignorante é um
povo, mais ocorre o fenômeno; assim, tipo o brasileiro.
Eu sou um escritor. Um cronista, bem
entendido. Há quem não considere cronista escritor. Algumas vezes ouso escrever
um pequeno conto. Nesses casos, é em caráter experimental, para ver se levo
jeito. Escrevo por prazer, já que não procuro editoras e nenhuma me procura. Só
escrevo o que quero ou sobre o que gosto. Não sou nenhum Machado de Assis, mas
sei que possuo muito bom senso. E sou honesto. Satisfeito em poder escrever meu
blog, nem penso em ganhar dinheiro com ele. Gostaria, mas estou muito velho
para correr atrás.
Cedo descobri que é preciso batalhar (fazer
amigos e bajular bastante) para ter um livro publicado. Tudo precisa de um QI
(quem indicou). Não gosto de pessoas e não sou puxa-saco.
Preciso insistir que sou como o Tony
Bellotto: meus personagens são rebeldes e não me obedecem. Quando é uma crônica
sobre algo que presenciei ou vivi, é mais fácil estabelecer um roteiro. Mas se
os personagens são fantasia, muitas vezes começo escrevendo sobre uma coisa e
acabo mudando para outra, na metade do texto.
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