domingo, novembro 18, 2012

SOMOS O QUE SOMOS III

A inveja começa no berço. A aparência é o que importa.




     Para os humanos, não basta ser. Queremos ser ‘mais’ que os que nos cercam. E quase sempre, ser implica em ter. Ter o quê? Não importa, desde que seja mais de qualquer coisa. Estamos contentes enquanto nosso vizinho possui um automóvel mais velho e mais barato que o nosso. As coisas mudam quando ele compre um carrão. Se pudermos, compraremos um mais novo e mais caro. Caso contrário, nossa simpatia transforma-se em suspeitas, raiva, inveja, e até mesmo calúnias sobre como ele conseguiu dinheiro para comprar o objeto que tanto nos humilha.
 
     É a famosa inveja, qualidade que felizmente não temos, mas que imputamos ao nosso próximo com a maior desfaçatez. Atribuo isso a um defeito de fabricação. Fomos mal feitos. Pena que não podemos simplesmente entrar numa oficina e fazer um recall. E se pudéssemos, não faríamos por um único motivo: nossos defeitos são muito pequenos; não valeria a pena. Mas essa oficina seria perfeita para melhorar quem nos cerca.
 
     A triste constatação é que somos estimulados a pensar assim pelas nossas mamães, cuja vaidade as impede de ver nossas imperfeições. Afinal, carregamos seus genes ‘perfeitos’ e somos a continuidade da sua existência. Imagine uma criança de até seis anos que ouve histórias de contos de fadas e é chamada pelos pais de “minha princesinha”. Seria exigir muito da sua cabecinha que ela não acreditasse ser de fato uma princesa – melhor que as outras crianças.  


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