sexta-feira, novembro 23, 2012

ESPELHO, ESPELHO MEU...

Quando o espelho reflete
A nossa imaginação,
Melhor ouvir outras vozes
Que falam pela razão
 
Não se veja melhor do que é.
 
 
 
       ESPELHO, ESPELHO MEU...
 
     Como será que as pessoas se veem diante de um espelho? De acordo com os resultados das minhas profundas pesquisas, a visão humana não é imparcial e muito menos independente. Ela recebe ordens do cérebro, que mente e engana a pobre. Daí a origem do provérbio “Nem tudo é o que parece”, inventado provavelmente por um ancestral do Liz Inaço da Sirva.
     A função do espelho ainda não foi bem compreendida por homens e mulheres. Essa função muda ao longo da vida curta. Na infância, o espelho serve para brincar de fazer caretas; a noção de beleza ainda não é muito clara em nós. Quando ficamos adolescentes, a estética assume proporções imensas e conflituosas; um lado nosso aponta os defeitos físicos; o outro nos mostra o que gostaríamos de ver: nossa beleza; é uma guerra interminável, e nossa vida futura vai depender muito de quem for o vencedor – ou seja, nossa autoestima e, consequentemente, nossas atitudes.
     Na idade adulta, que não sabemos onde começa, visto que a adolescência tem superado a faixa dos 20 anos e invadido o terreno da responsabilidade. Hoje é comum vermos adolescentes com mais de trinta anos, fato que pode ser explicado pela psicologia. Bem, vamos ressaltar que cada caso é um caso. O aumento da expectativa de vida é responsável por esse fenômeno comportamental. É que os ‘velhos’ de ontem fazem e realizam proezas nunca imaginadas, típicas de pessoas mais jovens. Ora, se eles podem esticar sua vida adulta, também os adolescentes podem esticar a adolescência.
     A ciência e a tecnologia têm sua parcela de responsabilidade no comportamento irresponsável dos nossos jovens. Os tratamentos para a longevidade – incluindo aí as intervenções cirúrgicas – nos faz ‘rejuvenescer’ 10 ou 20 anos. As academias especializadas em ‘reformatação de corpos’ criam na nossa imaginação a ilusão de que o comportamento deve acompanhar a aparência.
     Mesmo os velhos são afetados pelo ‘mal do espelho’. É que muitos sessentões passam muito tempo sem se olhar, guardando na lembrança os desejos e a aparência antiga. Eu, por exemplo, não me olho no espelho. Posso ficar frente a frente com ele para me pentear e nem reparo que estou um ‘caco’. A isso a psicologia denomina de ‘ignorância saudável’.  Como os velhos têm mais dinheiro que os jovens, eles se tornam irresistíveis. É tudo mentira, mas faz bem ao ego.
     Resumindo: o espelho só mostra o que a visão vê, depois de orientada pelo cérebro para só ver o que ele quer. Um conselho: quando você se aceita como é, fica mais bonito aos olhos do mundo. As pessoas querem felicidade, não beleza; só que elas não sabem disso.


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