SANDRA X PIMENTA
QUALQUER
UM...
Exceto eu,
qualquer um pode se tornar um assassino. Isso é no que as pessoas acreditam.
Todos somos juízes... Dos outros. Nossos erros têm sempre “aquela”
justificativa que não concedemos a mais ninguém. É um comportamento cujo motivo
tem sua explicação – que só nós sabemos e os outros não querem saber.
Cada
indivíduo, por mais racional que seja, carrega uma bagagem. Trazemos um DNA
biológico exclusivo quando nascemos; a partir daí, dia a dia vamos acumulando
experiências que ajudam a compor um segundo DNA; nossas mentes recebem uma
educação (que é única e intransferível) que vai compor nosso terceiro DNA. O quarto e o quinto são a ‘marca da época em
que vivemos’, e o ‘atavismo geográfico’ herdado do nosso povo, conforme a
região do planeta em que nascemos.
A CILADA DO
EMOCIONAL
Nesse
“Lolita” moderno, não existe mocinho ou vilão. Nem culpados. Nem vítima.
Vítimas? Pode ser. Cada personagem, carregando seus DNAs primitivos, privativos
e inacessíveis, representou o que lhes era permitido representar: eles mesmos. O
“acaso” se encarregou de montar o cenário da tragédia.
Os químicos
conhecem as substâncias que, quando misturadas, causam explosões de
intensidades variadas. O resultado é exato, matemático. Os humanos têm apenas
indícios do que pode ser perigoso. Indícios que podem ser facilmente anulados
ou vencidos pelo emocional de cada um. Uma substância química não possui um
lado emocional. Não possui ‘desejos’.
ELE
A lei da
sobrevivência é diferente para cada ser. Cada um lança mão das armas de que
dispõe. Sempre ocorre uma luta entre o instinto e o racional. O que faltava
para o homem rico e poderoso? Ninguém tem tudo, sempre nos falta algo. Não conheço
o Pimenta, apenas imagino que sua vida afetiva deixava a desejar. Ele estava
ficando velho e não queria que a vida lhe negasse um amor que o faria perder a
percepção do fim que se aproximava. Não é fácil conquistar esse último troféu
no outono da existência. A atração pela jornalista jovem e bonita despertou
nele uma sensação quase esquecida. Sem a ajuda da moça ele não insistiria. Ela
permitiu e estimulou suas investidas. Nesse jogo de emoções, alguns detalhes
não mereceram a sua devida atenção. As diferenças de idade e culturais não
foram levadas em conta. Ele estava ‘agora’ com 30 anos. Acreditou que esse amor
seria possível. Havia perdido a noção. O grande autor Vargas Vila escreveu que
“O homem que ama é um conquistador vencido por sua conquista”. Ele entrou nessa
aventura, já derrotado, e nem percebeu.
ELA
Oriunda de
uma classe social inferior, Sandra sonhava com o sucesso. Viu no interesse do
homem poderoso a sua grande oportunidade de ascender alguns degraus. Não
percebeu que estava praticando ‘alpinismo social’. Ela não era mais criança.
Mulher feita, experiente, muito natural que quisesse escalar a montanha. Como
ele, seu lado racional foi facilmente vencido pela visão do que poderia
conquistar. O grande conflito ocorreria pela motivação de cada um. Queriam o
‘mesmo objeto’, mas por razões diferentes. Se ele podia ‘usá-la’ para
satisfazer a vaidade masculina, ela poderia ‘usá-lo’ para subir na vida. Era
uma troca, que ele não percebeu. O tempo passou e o velho foi ficando mais
velho. Ela ascendeu profissional e financeiramente, e podia partir para
conquistar outros objetos de desejo, mais adequados à sua idade.
OS DOIS
Ele perdeu
a paz. O ciúme foi outra emoção que se intrometeu entre os dois amantes. O
poderoso percebeu que estava perdendo terreno. Iria perder a sua ‘fonte da
juventude’. Ela, até então estava no lucro. Era chegada a hora de descartar
aquele que estava cada dia mais possessivo. Precisava respirar, viver
plenamente. Talvez não tenha tido a habilidade necessária para pôr um fim no
‘caso’. Com isso, encontrou o próprio fim. Ele não se conformou com o fracasso.
Talvez mais um fracasso afetivo. Partiu para o ‘tudo ou nada’. Ela deixou de
viver, mas parou de sofrer. Ele ficou vivo para sofrer o arrependimento.
MEU
CONSELHO
No amor,
permita que seu lado racional fale mais alto. Na caridade, deixe o seu
emocional livre, leve e solto. Dois pesos, duas medidas.
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