quarta-feira, abril 18, 2012

UM CRIME ANUNCIADO


        SANDRA X PIMENTA

   QUALQUER UM...
   Exceto eu, qualquer um pode se tornar um assassino. Isso é no que as pessoas acreditam. Todos somos juízes... Dos outros. Nossos erros têm sempre “aquela” justificativa que não concedemos a mais ninguém. É um comportamento cujo motivo tem sua explicação – que só nós sabemos e os outros não querem saber.
   Cada indivíduo, por mais racional que seja, carrega uma bagagem. Trazemos um DNA biológico exclusivo quando nascemos; a partir daí, dia a dia vamos acumulando experiências que ajudam a compor um segundo DNA; nossas mentes recebem uma educação (que é única e intransferível) que vai compor nosso terceiro DNA.  O quarto e o quinto são a ‘marca da época em que vivemos’, e o ‘atavismo geográfico’ herdado do nosso povo, conforme a região do planeta em que nascemos.

   A CILADA DO EMOCIONAL
   Nesse “Lolita” moderno, não existe mocinho ou vilão. Nem culpados. Nem vítima. Vítimas? Pode ser. Cada personagem, carregando seus DNAs primitivos, privativos e inacessíveis, representou o que lhes era permitido representar: eles mesmos. O “acaso” se encarregou de montar o cenário da tragédia.
   Os químicos conhecem as substâncias que, quando misturadas, causam explosões de intensidades variadas. O resultado é exato, matemático. Os humanos têm apenas indícios do que pode ser perigoso. Indícios que podem ser facilmente anulados ou vencidos pelo emocional de cada um. Uma substância química não possui um lado emocional.  Não possui ‘desejos’. 

    ELE
   A lei da sobrevivência é diferente para cada ser. Cada um lança mão das armas de que dispõe. Sempre ocorre uma luta entre o instinto e o racional. O que faltava para o homem rico e poderoso? Ninguém tem tudo, sempre nos falta algo. Não conheço o Pimenta, apenas imagino que sua vida afetiva deixava a desejar. Ele estava ficando velho e não queria que a vida lhe negasse um amor que o faria perder a percepção do fim que se aproximava. Não é fácil conquistar esse último troféu no outono da existência. A atração pela jornalista jovem e bonita despertou nele uma sensação quase esquecida. Sem a ajuda da moça ele não insistiria. Ela permitiu e estimulou suas investidas. Nesse jogo de emoções, alguns detalhes não mereceram a sua devida atenção. As diferenças de idade e culturais não foram levadas em conta. Ele estava ‘agora’ com 30 anos. Acreditou que esse amor seria possível. Havia perdido a noção. O grande autor Vargas Vila escreveu que “O homem que ama é um conquistador vencido por sua conquista”. Ele entrou nessa aventura, já derrotado, e nem percebeu.

   ELA
   Oriunda de uma classe social inferior, Sandra sonhava com o sucesso. Viu no interesse do homem poderoso a sua grande oportunidade de ascender alguns degraus. Não percebeu que estava praticando ‘alpinismo social’. Ela não era mais criança. Mulher feita, experiente, muito natural que quisesse escalar a montanha. Como ele, seu lado racional foi facilmente vencido pela visão do que poderia conquistar. O grande conflito ocorreria pela motivação de cada um. Queriam o ‘mesmo objeto’, mas por razões diferentes. Se ele podia ‘usá-la’ para satisfazer a vaidade masculina, ela poderia ‘usá-lo’ para subir na vida. Era uma troca, que ele não percebeu. O tempo passou e o velho foi ficando mais velho. Ela ascendeu profissional e financeiramente, e podia partir para conquistar outros objetos de desejo, mais adequados à sua idade.

   OS DOIS
   Ele perdeu a paz. O ciúme foi outra emoção que se intrometeu entre os dois amantes. O poderoso percebeu que estava perdendo terreno. Iria perder a sua ‘fonte da juventude’. Ela, até então estava no lucro. Era chegada a hora de descartar aquele que estava cada dia mais possessivo. Precisava respirar, viver plenamente. Talvez não tenha tido a habilidade necessária para pôr um fim no ‘caso’. Com isso, encontrou o próprio fim. Ele não se conformou com o fracasso. Talvez mais um fracasso afetivo. Partiu para o ‘tudo ou nada’. Ela deixou de viver, mas parou de sofrer. Ele ficou vivo para sofrer o arrependimento.

   MEU CONSELHO
   No amor, permita que seu lado racional fale mais alto. Na caridade, deixe o seu emocional livre, leve e solto. Dois pesos, duas medidas.

  


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