segunda-feira, abril 23, 2012


      O ANTIDEPRESSIVO


Depressão é a doença do momento. É um imposto que nos é cobrado por vivermos neste século. O "vírus" da depressão ataca homens e mulheres, ricos e pobres, feios e bonitos, jovens e velhos, solteiros e casados, viados ou não.  Terapeutas que fazem análise custam muito dinheiro. São tratamentos demorados, cujo resultado não é garantido. E pode viciar tanto como certos medicamentos. Há pessoas que não resolvem o mais simples e corriqueiro problema sem consultar o seu analista.
Quem acordou bem disposto e pegou o jornal para ler, viu o horóscopo, que não tem problema - porque você só acredita se as previsões forem boas.  Depois foi para os quadrinhos, as charges, as crônicas, a programação de lazer, a política – que serve para dar boas gargalhadas, desde que você não reflita muito sobre a triste realidade. No caderno de esportes, tome cuidado com o futebol. Leia tudo sobre o campeonato espanhol, torça pelos brasileiros que brilham lá. Deixe de lado os times brasileiros. Jogador brasileiro só é bom quando está lá fora.
          A contra-indicação é  o caderno de economia. Não leia. Nunca!  Estou com ele aqui na minha frente. Não pude evitar.  São os riscos da profissão. A primeira manchete trata da "Matemática perversa dos juros", e nos mostra o quanto somos roubados pelos banqueiros. E pelo governo também, que pratica essa política de juros criminosa. As fusões, efeito da globalização, fazem que o número de bancos diminua. Quantos menos (bancos) houver, menor a concorrência, mais caro será o juro. Já preocupado, vai para a página seguinte. "A previdência é hoje como um barco cheio de craca", declara o secretário do tesouro nacional. E prossegue: "O Banco Central tem que conter a inflação, doa a quem doer". Dá pra adivinhar em quem vai doer? Melhor dizendo, no ‘que de quem’ vai doer?
Já não muito animada, a próxima vítima (da depressão) passa para a página do lado. Está escrito: "Funcionário 'workaholic' está fora de moda". Mas até pouco tempo esse era o funcionário ideal, paparicado pelas empresas – pensa aflito. Vire a página, e uma novidade que ninguém tinha percebido: 'A telefonia no Brasil vai mal'. As companhias se queixam do lucro pequeno. “Uma empresa terá que desaparecer, para diminuir a concorrência, e as que sobrarem, formarão um cartel para aumentar os lucros”.
Finalmente uma boa notícia. 'O PIB cresceu'. Mas trata-se do PIB da 'Vila Mimosa', antro da baixa prostituição. Será que faz sentido esse assunto ser tratado no caderno de economia? – indagou nosso já cabisbaixo leitor. O bom senso lhe diz que faz. Afinal, sexo é um negócio bem antigo.  

Não tome remédios. O melhor antidepressivo para qualquer pessoa que lê jornal é não ler jornal.

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