domingo, abril 01, 2012


FAZENDO NADA

                                                                                        

   As duas palavrinhas do título deste artigo parecem um contra-senso. Pode-se fazer nada? Pior, podemos fazer nada, bem e com qualidade? Seria ótimo se quem pretende seguir carreira compreendesse que “fazer nada requer dedicação e conhecimento”. Fazer absolutamente nada é uma arte, talvez até mesmo uma ciência. Fazer nada é aprender a sofrer calado. Fazer nada é não largar seus afazeres para discutir.  
   Já notou que quem faz nada vive sem tempo para nada? Fazer nada pode significar uma boa coisa. Fazer nada não é exatamente fazer nada. Mesmo quando dormimos, a nossa mente trabalha. Muitas vezes, só quando dormimos. Fazer nada é uma posição filosófica. O sujeito olha o mundo e fica se perguntando o que levou Deus a delegar a criação para o anjo da sua confiança, Lúcifer?
   Lúcifer foi o que conhecemos hoje pelo nome de 'executivo'. Fazer nada é delegar, o que contraria a máxima popular que diz: "Se queres bem feito, faz, não delega" ou o famoso "Quem quer vai, quem não quer, manda". Deus se poupou, delegou, descansou e nos ferrou.
   Tenho feito muito nada nestes últimos anos. Poderia lhes passar a minha extraordinária experiência. Mas não seria justo. Demorou muito para eu aprender a fazer nada com sabedoria, com fair-play, com orgulho. Cheguei a um nível de perfeição que nem morto eu faria nada tão bem – sim, porque os mortos ainda alimentam os vermes, o que poderia ser considerado, pelos mais radicais, uma espécie de trabalho. O maior e mais elevado pensamento que alguém poderia ter fazendo nada seria passar a outras pessoas o seu conhecimento. Mas aí poderia ser mal interpretado. Ensinar dá trabalho, palavra que quem faz nada tão bem já eliminou do seu vocabulário.

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