RECEITAS PARA MANTER AMIZADES
Fazer amigos não deixa de ser relativamente
fácil, basta esbanjar simpatia. Quem é excessivamente simpático pode até ser
excessivamente feio ou feia, pois isso passa para segundo plano. Pelo menos
quando se trata apenas de amizade, sem segundas intenções.
A primeira dificuldade está em ser sempre
simpático, coisa que os amigos esperam de você. O mau humor faz parte da nossa
vida, e quando ele surge, com ou sem motivo, a empatia desaparece. E quem
consegue ser simpático apesar de estar com o humor péssimo?
Outro problema é que todos os amigos cobram
de você uma qualidade que, convenhamos, quase ninguém pode dar: a sinceridade.
Quero dizer, poder pode, só que é aí que a amizade acaba. Melhor dizendo, todo
mundo quer ter um amigo super sincero, desde que não diga toda a verdade.
Parece paradoxal? E é.
Melhor eu traduzir para evitar que o leitor
fique muito confuso: não fale a verdade sempre, quero dizer, prefira não falar
quase nunca. Minta, mas minta muito – só assim seu amigo ficará feliz e gostará
cada vez mais de você, que cada vez será mais mentiroso e falso.
Para que contar que você transa com a mulher
do seu melhor amigo? Ou com a mãe dele? Ou com a irmã? Sei que concordará que o
melhor caminho a seguir será a ‘omissão’, que é uma espécie de mentira,
geralmente disfarçada de esquecimento.
Mas, peraí, eu usei a palavra falso? Bem, em
geral as pessoas consideram a mentira uma espécie de falsidade. Não, não estou
falando da “falsidade ideológica”, que é outra coisa. É quando surge a pergunta:
se eu não posso falar as verdades, e também não posso mentir, terei que ficar
mudo?
A verdadeira amizade não é só isso. Você
deverá fazer o papel de idiota, sempre que seu amigo mentir. Como? Fingindo que
acredita na história que ele conta. Qualquer outra atitude de sua parte fará a
amizade desmoronar.
Espero ter dado ao leitor uma pálida ideia
dos sacrifícios que uma amizade verdadeira exige de nós. Eu prefiro não ter
amigos. Assim, minto só para mim mesmo, e nem vou ficar muito zangado.
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