VELÓRIOS
Não gosto dessas coisas. Que eu me lembre, só
fui a um por não ter escapatória. Enterro? Fui a 3, um foi do meu filho. Em
quase setenta anos de vida, consegui driblar muito defunto. Considero todos
esses rituais de despedida de muito mal gosto. Não servem para nada – essa é a
verdade.
Peraí, o que estou dizendo? Velórios e
enterros servem para muitas coisas. Tem gente que vai para comer. Outros, que
nem conheciam o morto, vão para se mostrar e, quem sabe, descolar alguma
vantagem – que pode ser a própria viúva.
Não se iluda. Existem razões que a própria
razão desconhece para ir a esse tipo de efeméride funesta. Muitas vezes, lá
está o assassino consolando a família – se o defunto tiver sido assassinado por
um conhecido.
Se o cara que morreu foi rico, aí mesmo é que
vai muita gente. De todo tipo. Vão os herdeiros que começam a engalfinhar-se lá
mesmo, vão os empregados que não gostariam de ser demitidos e precisam mostrar
respeito ao ex-patrão, comparecem negociantes que foram desprezados pelo que se
foi e tentarão agora negociar com os filhos, e até mesmo os que não têm
interesse algum, a não ser aparecer, quem sabe, numa foto que pode sair num
jornal ou revista.
Criminosos famosos e políticos também
querem que seu futuro funeral seja ‘bem frequentado’, e, de preferência por
muita gente. Há os frequentadores que vão apenas fofocar e, geralmente,
aproveitar para falar mal do defunto, em meio a risadinhas mal disfarçadas.
Acredite: muitos vão aos enterros e velórios
para fazer política e acertar conchavos. Outros, vão apenas para se divertir
criticando as presenças dos amigos e ‘admiradores’ do morto. Quem não se lembra
do velório do Nelson Mandela. Vi fotos de gente sempre rindo ou sorrindo. Na
verdade, estavam se lixando para o evento fúnebre. Também é um bom lugar para
paqueras e planejar vinganças.
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