ODEIO
SURPRESAS
Se fosse possível, cortaria essa palavra
(surpresa) do meu vocabulário. Na grande maioria das vezes, surpresas são
desagradáveis e, obviamente, nos pegam de surpresa. Melhor dizendo,
despreparados, indefesos, sejam coisas boas ou más. Já não basta a vida a nos
surpreender quase diariamente? Não preciso de ajuda de pessoas que acham
‘legal’ fazer uma surpresazinha.
Lembro uma ocasião em que alguém quis
organizar uma festa de aniversário para mim – adivinhem onde? Na minha própria
casa. Quem teve essa ideia idiota? Minha mãe, que não morava comigo e estava
‘careca’ de saber que odeio fazer aniversário, e sabe que costumo desaparecer
nessa data. Também não gosto de natal, ano novo, dia dos pais ou das mães, dia
das crianças, dia da independência, e todos os dias santos.
Quarenta e oito horas antes da ‘efeméride’,
falei que ia viajar na véspera, justamente para que nem me ligassem – nesse
tempo não havia celular. Eu não sabia, mas houve um corre-corre alucinado para
cancelar a minha festa que eu desconhecia.
Era 23h do dia fatal, e eu dormia feliz por
não ter sido incomodado. Tocou o interfone e o porteiro avisou que um bom amigo
estava querendo subir. Estranhei a hora, mas autorizei. Ao abrir a porta, com
cara de sono e todo desarrumado, deparei-me com o amigo e sua namorada, e um
embrulho de presente nas mãos. Para todos nós, foi a ‘hora do espanto’. O casal
não foi encontrado e não pôde ser avisado que a festa havia sido cancelada.
A raposa, personagem do livro “O Pequeno
Príncipe”, disse-lhe num certo momento da conversa que tiveram: “... se tu vens
a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração... É preciso que haja um ritual”.
Penso igualzinho à raposa. Sem surpresas a
vida é melhor.
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