HERÓIS NÃO EXISTEM
Joaquim Barbosa não é nem deve ser
considerado herói. O dicionário mostra diversos significados para a palavra,
que não se aplicam ao ministro. Creio que cada pessoa dá sua interpretação para
o que seria ser herói. Certas vezes, o herói para uns é o vilão para outros.
Tudo depende do ângulo de visão. Para os petistas, Barbosa foi um traidor, um
mal-agradecido, que não correspondeu ao que esperavam dele.
Isso de esperarmos um determinado
comportamento por parte de alguém é, quase sempre, o resultado de uma análise
mal feita. Pessoas são previsíveis, mas nem tanto.
Mesmo um comportamento íntegro pode ser uma
farsa, para criar uma expectativa conveniente. Até agora, o ministro deu
indicações de ser um homem de bem, ao contrário de alguns colegas seus.
O Capeta sempre foi contra uma possível
candidatura de Joaquim Barbosa à presidência da república. Ele não tem o
perfil. O fato de ser negro e ter vencido tantos obstáculos deixou-o
excessivamente vaidoso – ou orgulhoso, ou prepotente – como preferirem.
Mas ele é muito nervoso e irritadiço, e seu
temperamento não é compatível com o cargo de um presidente, que exige um
caráter mais, digamos, maleável. Tenho a impressão que o ainda ministro não
gosta muito de pessoas, exatamente como este que vos escreve. No lugar dele, eu
também renunciaria ao cargo. Não suportaria ver as coisas pelas quais lutei,
serem destroçadas por pessoas de quem não gosto e nas quais não acredito.
Outra coisa que lhe traz dificuldades é –
apesar de sua grande cultura e instrução acadêmica – uma dicção um tanto presa,
deficiência que se agrava quando é contrariado ou tem que driblar golpes
baixos.
Não sei até que ponto essa irritação se deve
ao problema com sua coluna. Ele pode estar cansado de lidar com a estupidez
humana, como eu. Minha vantagem sobre ele é que não me engajo à causa alguma. O
desinteresse que sinto é quase absoluto. Por tudo. Se ele desistiu da luta,
dou-lhe nota 10.
Essa renúncia já era esperada. Para ele,
renunciar é o mesmo que se retirar da cena com a maior dignidade. É raro vermos
pessoas investidas de um grande poder serem tão desapegadas.
Entretanto, tenho pena dos seus colegas de
trabalho, que serão, doravante, vistos como responsáveis pela perda que não é
só do tribunal – é de todo o povo brasileiro. A justiça perdeu um homem justo.
É pena.
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