Primeiro quero pedir desculpas ao Ruy Castro por ter, nesta crônica, substituído a foto dele pela do Caymmi. Mas é que esta é a mais perfeita expressão de felicidade e 'não tô nem aí' que já vi.
RUY CASTRO NÃO COMPREENDE
O versátil autor (o cara é dos bons) não
conseguiu assimilar o verdadeiro sentido da ‘preguiça’, um dos 7 pecados
capitais – segundo a igreja católica. O Capeta faz parte de uma corrente de
pensamento que afirma e reafirma que pecado não existe. Aliás, creio que todos
eles podem e devem ser praticados, desde que sem exageros – mas quem exagera
não é pecador, é “desavisado”.
Escrevo sobre o assunto depois de ler uma
crônica do Ruy, “A Falsa Preguiça”, sobre o grande Dorival Caymmi – onde ele
diz que Dori não era preguiçoso. Para provar, o autor recorreu à extensa obra
musical e o trabalho do baiano no início da carreira.
Quase todo mundo, mesmo os mais ferrenhos
preguiçosos, têm que trabalhar no início da vida adulta. Infelizmente é assim,
porque... Porque é.
Nem todos temos a sorte do Jorginho Guinle, o
sujeito mais ocupado de que ouvi falar. Ou vocês pensam que escolher mulheres
não é uma ocupação? Só que essa atividade não é ‘trabalho’, é puro prazer – a
satisfação do instinto. Nem rende dinheiro, muito pelo contrário. Com mulher,
você só perde. Falo com conhecimento.
Alcançada a estabilidade financeira, Caymmi
deitou na rede e não mais levantou. Esse argumento derruba a tese do Ruy
Castro.
Acredito que o compositor sentia um enorme
prazer ao compor – o que definitivamente não pode ser caracterizado como
trabalho. Sendo admirador dos dois (assumo mesmo uma certa inveja), possuo os instrumentos mais utilizados por meus heróis:
uma rede e um colchão de molas caríssimo – meus únicos bens.
O compositor foi feliz, apesar de um pequeno
constrangimento por ter trabalhado no princípio da carreira. O ‘comedor’ também
foi quase completamente feliz, exceto pela própria altura, que o obrigava a
andar de salto alto. Nada é perfeito.
Como não tive a sorte de ter o talento do
Dorival, nem a fortuna do Jorginho, procurei meu próprio caminho com muita
sabedoria. No fundo, todo mundo gostaria de ser preguiçoso, mas isso é para
quem pode. Fazer ‘nada’ é minha especialidade. Dormir é meu esporte favorito.
Saber pensar, o meu talento. E você, Ruy Castro, pode se dar ao luxo de ser
preguiçoso?
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