domingo, maio 11, 2014

A FOTO PERFEITA

 
Primeiro quero pedir desculpas ao Ruy Castro por ter, nesta crônica, substituído a foto dele pela do Caymmi. Mas é que esta é a mais perfeita expressão de felicidade e 'não tô nem aí' que já vi.



 
  RUY CASTRO NÃO COMPREENDE
 
  O versátil autor (o cara é dos bons) não conseguiu assimilar o verdadeiro sentido da ‘preguiça’, um dos 7 pecados capitais – segundo a igreja católica. O Capeta faz parte de uma corrente de pensamento que afirma e reafirma que pecado não existe. Aliás, creio que todos eles podem e devem ser praticados, desde que sem exageros – mas quem exagera não é pecador, é “desavisado”.
  Escrevo sobre o assunto depois de ler uma crônica do Ruy, “A Falsa Preguiça”, sobre o grande Dorival Caymmi – onde ele diz que Dori não era preguiçoso. Para provar, o autor recorreu à extensa obra musical e o trabalho do baiano no início da carreira.
  Quase todo mundo, mesmo os mais ferrenhos preguiçosos, têm que trabalhar no início da vida adulta. Infelizmente é assim, porque... Porque é.
 
 Nem todos temos a sorte do Jorginho Guinle, o sujeito mais ocupado de que ouvi falar. Ou vocês pensam que escolher mulheres não é uma ocupação? Só que essa atividade não é ‘trabalho’, é puro prazer – a satisfação do instinto. Nem rende dinheiro, muito pelo contrário. Com mulher, você só perde. Falo com conhecimento.
 
  Alcançada a estabilidade financeira, Caymmi deitou na rede e não mais levantou. Esse argumento derruba a tese do Ruy Castro.
  Acredito que o compositor sentia um enorme prazer ao compor – o que definitivamente não pode ser caracterizado como trabalho. Sendo admirador dos dois (assumo mesmo uma certa inveja), possuo os  instrumentos mais utilizados por meus heróis: uma rede e um colchão de molas caríssimo – meus únicos bens.
 
  O compositor foi feliz, apesar de um pequeno constrangimento por ter trabalhado no princípio da carreira. O ‘comedor’ também foi quase completamente feliz, exceto pela própria altura, que o obrigava a andar de salto alto. Nada é perfeito.
 
  Como não tive a sorte de ter o talento do Dorival, nem a fortuna do Jorginho, procurei meu próprio caminho com muita sabedoria. No fundo, todo mundo gostaria de ser preguiçoso, mas isso é para quem pode. Fazer ‘nada’ é minha especialidade. Dormir é meu esporte favorito. Saber pensar, o meu talento. E você, Ruy Castro, pode se dar ao luxo de ser preguiçoso?
 

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