Nossa indigência moral é a única explicação para ficarmos indiferentes à cenas como esta, em que uma mulher carrega nos braços o filho morto pela fome. Se isso realmente nos incomodasse, não permitiríamos que acontecesse.
ESTAMOS CONDENADOS
Nós
somos "instinto".
A ciência mostra, a cada dia, que não somos o que pensamos – nem o que
gostaríamos de ser. Estamos apenas começando a desvendar nosso DNA.
Quando adultos, compreendemos coisas que antes era impossível. A minha descoberta
juvenil foi que a moral era a
combinação entre a geografia, o tempo, e as convicções pessoais de cada um. A geografia,
porque o que é moral num país é amoral em outro. O tempo, pois o moralismo de 50 anos atrás é ridicularizado pelas
pessoas. É como se alguém aparecesse numa festa, vestido com trajes da idade
média. Convicções pessoais são 'tudo
o que desejamos e aceitamos'. Nesse quesito, somos únicos. Há apenas
semelhanças.
Podemos ter convicções que não são aceitas pela maioria. Nesse caso,
como nos comportamos? Fingimos, ora. Mas isso de fingir não significa que somos
melhores ou piores. Fingimos ser uma
coisa 'melhor' para nossa própria segurança e sobrevivência. Quem, honestamente falando, nunca
teve vontade de matar? Quem nunca se regozijou com o infortúnio alheio? Quem
nunca teve vontade de furtar? Parecer
honestos é a maior desonestidade. Ser 'civilizados' facilita o sucesso. Então, vamos ser honestos e
bem-educados, para que os outros assim nos percebam. O importante é ter e ser mais.
Essa é a nossa verdadeira vontade
interior, que insistimos em não reconhecer. Não podemos mostrar as ‘garras’,
para não assustar os outros competidores. Isso
não quer dizer que queremos o mal para todo mundo - apenas para quem pode ser
um obstáculo para nossos projetos pessoais. Não fosse o medo de
sermos descobertos, quantos 'crimes' (no mais abrangente sentido) cometeríamos
ao longo de nossa curta existência? Inventamos as leis dos homens e de Deus.
Inventamos um Deus conforme nossas conveniências e cultura - que assume
características diversas, conforme a região onde foi inspirado. Basta pedir
perdão, que Deus perdoa. Aí voltamos a cometer os mesmos pecados e tudo se
repete. A consciência - que nada mais é do que a aceitação ou não da moral vigente
- fica novinha em folha. Não podemos lutar contra nossos instintos. No
máximo, exercemos sobre eles algum controle quanto à nossa forma de agir e
reagir.
A educação religiosa, tanto quanto a formal ou a familiar, serve para
criar, dentro de nós, padrões de conduta que causam certo nível de desconforto
quando não cumpridos. Todos os exércitos continuam matando, torturando e
estuprando, sem o menor constrangimento. Nesses casos, soldados de ambos os
lados justificam que Deus está do seu lado. As pessoas se inquietam quando os
crimes são descobertos e provados. A grande motivação que nos empurra
ladeira abaixo é aquela que nos faz sentir um desejo incontido de vencer – e
propagar nossos genes. Esses moldam com maior nitidez nosso 'caráter
principal'. Darwin descobriu que "você é uma máquina de
sobrevivência dos seus genes, que o usam para se reproduzir".
Sabe por que não existe uma civilização de pessoas 'boas'? Porque não
existem pessoas apenas boas; o que muda de indivíduo para indivíduo é a forma
de agir. Alguns tentam alcançar seu ‘propósito' usando de violência, enquanto
outros se valem da diplomacia.
Você
não é dono absoluto da sua vontade.
Você está condenado a ser
você.
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