Padrinhos deveriam ensinar coisas boas aos afilhados. Deveriam, mas não é o que acontece.
PADRINHOS
Não sei quem inventou essa história de
padrinho. Em geral, raras as pessoas que não têm ou não são padrinhos – que
pode ser de alguém ou de algo. Dizem os estudiosos dos costumes que o padrinho
substitui o pai – na falta deste. Não sei não. Tenho visto alguns exemplos de
padrinhos que atuam de forma diferente do esperado. Muitos padrinhos realmente
substituem o pai - na cama da mãe.
Quando criança, pensava nos padrinhos como
pessoas que traziam presentes no meu aniversário, no dia da criança e no natal.
Era ótimo. Nesse tempo, questionava apenas o fato de ter apenas um padrinho e
uma madrinha. Se fossem dez, seriam dez presentes... Mas a infância não dura
muito, e a continuação das ‘atividades’ de um padrinho vai perdendo força com o
passar do tempo. Também acontece das relações dos padrinhos com nossos pais
ficarem estremecidas por algum motivo que ignoramos; é quando os presentes
cessam e sentimos que ficamos no prejuízo; os mimos que julgávamos um direito
‘constitucional’ nosso receber, simplesmente param de chegar.
Os tempos mudaram, é verdade. Os padrinhos
também, infelizmente. De quem seria a culpa da ameaça de extinção dos
padrinhos? Mais uma vez foi o Clarindo Benevides que apresentou outra das suas
teorias ‘malucas’ – cheias de coerência e verdades sobre as quais nunca paramos
para pensar.
Segundo meu brilhante amigo, tudo começou
quando o processo de escolha dos ‘pais substitutos’ foi sofrendo alterações nos
critérios. Aos poucos, a amizade entre duas famílias foi sendo substituída
pelas vantagens que nossos pais poderiam usufruir. Ser escolhido para ser
padrinho de alguém deixou de ser uma honra para se tornar uma saia justa.
Algumas vezes, amigos se insinuam para
ocupar o ‘cargo’, quando os pais do bebê que nasceu, são, de alguma forma, mais
ricos e poderosos que eles – que querem pensar que sempre poderão contar com o
apoio dos compadres. Em geral, essa insinuação nem sempre sutil é causadora de
outra saia ainda mais justa. No início deste parágrafo eu falei em ‘cargo’,
você notou? Não foi engano de minha parte; ser padrinho, afilhado ou compadre
de alguém pode facilitar o crescimento dos negócios, e até mesmo ser a semente
de uma promissora carreira política. Há casos, inclusive, que os padrinhos
criam vínculos tão fortes que tratam a comadre como sua própria mulher –
literalmente.
Esqueci de perguntar ao Clarindo como isso
vai acabar. Ou se vai acabar. Ou apenas evoluir para acompanhar o modernismo –
já que nem as famílias de hoje se parecem com as de antigamente, mesmo com as
de antigamente mais recentes. Lembrei de suas últimas palavras sobre o assunto:
“Padrinho se tornou o cara mais importante da sua vida. Através dele você fica
sabendo quando sua mamãe começou a ficar com o corpo caído”.
Como diz o ditado popular, ‘Quem tem padrinho,
não morre pagão’. Mas corre o risco de morrer fdp.
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