terça-feira, março 18, 2014

GRANDES PROBLEMAS DA HUMANIDADE

Toda bunda é um problema sério. É que elas nunca são iguais. Uns apreciam uma bunda como a da foto, enquanto outros preferem uma que seja mais discreta. Há bundas de todos os tamanhos e formas, como há gosto para tudo. Uma coisa é certa: nenhuma mulher está satisfeita com a que tem. Sempre pode melhorar...


A BUNDA

 

Amadeu –  Tô enfastiado! Já conheço todas as mulheres do pedaço!
Fonseca – E daí? Eu também conheço!
Amadeu – Daí que comi as que pude e valiam a pena. As que sobraram não me interessam. Preciso renovar minha agenda.
Fonseca –Vai ser difícil. Parece que ninguém se muda pra cá faz um tempão. Tens que freqüentar outros botecos.
Amadeu – Tás ficando louco, cara? Aqui tem o melhor chope da cidade. E onde que tem um garçom como o Nivaldo? Esse sabe tudo do ofício. Falando nisso... Ô, Nivaldo!, bota mais um, tinindo.
Fonseca – E traz umas batatinhas fritas, tá!?
Amadeu - O que eu tava falando mesmo?
Fonseca – De mulher, pô! Tu só falas nisso...
Amadeu – Lembrei! Preciso renovar os telefones da minha agenda. Novos números, novas mulheres, novas oportunidades, novas emoções...
Fonseca – E novas cagadas! E como o amigo pretende conseguir isso sem mudar de ares?
Amadeu – Encontrei uma solução pro problema. Quase nem dormi esta noite, mas valeu a pena.
Fonseca – Essa eu quero ouvir!
Amadeu – Vou pôr um anúncio!
Fonseca – Nos classificados?
Amadeu – Claro que não, sua anta! Quem põe anúncio no jornal é puta ou travesti. Coisa démodé.  
Fonseca – E onde vai ser, então?
Amadeu – Na internet!
Fonseca – Naqueles sites de encontros, tipo ‘parperfeito’ e ‘almasgêmeas’?
Amadeu – Lá não serve. Experimentei uma vez e não deu certo.
Fonseca – Mas lá tem muita mulher...
Amadeu – Pô, Nivaldo!, cadê as batatinhas? Acabei de te elogiar e tu já estás pisando na bola!
Nivaldo – Já tão saindo, Madeu! É que eu tava servindo as moças da mesa dez. Senhoras primeiro, né!?
Amadeu – Moças? Que moças? Desde quando tem moça na turma que anda com a Bete?
Fonseca – Mas fala logo! Onde vais colocar o tal anúncio?
Amadeu – No Facebook! Já fiz até uns rascunhos.
Fonseca – Xeuver aqui.
Amadeu (Puxando uns papéis amassados de dentro do bolso da bermuda) - Pera lá! Vou mostrar... Primeiro, uma pequena biografia do papai aqui. Digo que sou romântico, gosto de animais, de crianças, essas qualidades que as mulheres tanto apreciam num homem. Depois, e isso é que importa, digo que estou solitário e carente.
Fonseca – Essa não vai colar! Solitário e carente? Coisa mais antiga!
Amadeu – Antiga eu sei que é, mas ainda funciona. Basta fazer um pequeno drama. Que mulher não gosta de drama?
Fonseca – Posso saber qual foi a brilhante ideia?
Amadeu – Vou dizer que estou solitário porque minha amada morreu! Tá justificada minha carência afetiva?
Fonseca – (Nossa! Que filho da puta cara-de-pau!) Não posso negar que a idéia é criativa. É capaz de dar certo, sabia?
Amadeu – Vai dar certo! Só estou com algumas dúvidas sobre a descrição da mulher que eu quero.
Fonseca – Descrever pra quê? Tu sempre disseste que toda mulher merece pelo menos umazinha. Qualquer uma serve.
Amadeu – Isso é modo de falar, anta. Eu me referia às boas, às não tão boas, e às mais ou menos boas...
Fonseca – Não vejo diferença. Pra mim, toda mulher é a mesma coisa, basta que eu feche os olhos.  
Amadeu – Não acredito no que acabo de ouvir! Daqui a pouco vais dizer que a ‘dona punheta’ é a melhor de todas.
Fonseca – De repente... Acaba sendo mesmo. Bater uminha é uma arte. Precisa de concentração, boa memória, não é para qualquer coroa.
Amadeu – (Mas que velho safado! Punheteiro!) - Vejo uma única vantagem na punheta: você transa com quem quiser.
Fonseca – Tem outra. O cara não gasta uma moeda sequer. Nada de jantarzinho, presentinho, cineminha com pipoquinha...
Amadeu – Esse garçom filho da puta já está me enchendo o saco! Nivaaaaldo!
Nivaldo – (O Amadeu tá um saco hoje!) - Dê suas ordens, meu chefe!
Amadeu – Porra, Nivaldo!, cadê a batatinha frita!?
Nivaldo – Deve estar no seu estômago, chefe.
Amadeu – Então já devia ter trazido outra porção!
Nivaldo – Mas você não pediu.
Amadeu – E preciso pedir? Freqüento essa merda de bar há pelo menos vinte anos e você já era garçom aqui. Ainda não aprendeu o meu gosto?
Nivaldo – Tá saindo, tá saindo!
Fonseca – Mas sim, cadê o tal anúncio que vai sair no ‘face’?
Amadeu – (Puxando o papel amarrotado do bolso) – Taqui, dá uma lida e me diz se está bom.
Fonseca – (Lendo em voz alta) – “Homem de 50 anos, livre e desimpedido, carente, procura namorada para compromisso sério. Ela deve ser independente, sem filhos, órfã de mãe, curso superior, de 25 a 40 anos, até 1,70m de altura, manequim 38 ou 40. Quem se interessar pode escrever para o e-mail Amadeu@ig.com.br  . Favor enviar foto de corpo inteiro, e um close do rosto”. (Após a leitura, o Fonseca ficou em silêncio, pensativo).
Amadeu – E aí, que tal? Tá bom?
Fonseca – (Em silêncio, faz um sinal para o Amadeu esperar um pouco, assumindo a postura de quem está numa profunda reflexão)
Amadeu – Tá decorando o meu texto?
Fonseca – É, tá bonzinho.
Amadeu – Bonzinho? Bonzinho? O que significa bonzinho?
Fonseca – Significa que poderia ficar melhor.
Amadeu – Mas estou dizendo tudo que eu quero!
Fonseca – Deixa pra lá então.
Amadeu – Deixa pra lá coisa nenhuma. Quero saber como poderia ficar melhor. Fala!
Fonseca – Bem, eu mudaria algumas coisinhas...
Amadeu – Por exemplo?
Fonseca – Você acabou de sair de um casamento e já tá querendo ‘um compromisso sério’?
Amadeu – Isso eu não vou mudar! É só para constar. Se eu não falo que é sério minhas possibilidades de sucesso diminuem. Entendeu?
Fonseca – Pode ser, mas há coisas que podem prejudicar. A Idade, cara.
Amadeu – A faixa etária que eu coloquei não está boa?
Fonseca – Olha, eu não limitaria aos 40 anos. Hoje em dia tem gata de 45, 50, que dá show.
Amadeu – (calado e pensativo por alguns segundos) – Porra, Nivaldo, meu copo tá vazio! (garçom de merda!) - É, acho que tens alguma razão.
Fonseca – Alguma razão? Alguma porra nenhuma! Pensa na mulher do Felinto. Eu daria um braço para dormir com ela. Mas quem iria querer esta merda de braço? Queria ter a grana do Redford.
Amadeu – Quem?
Fonseca – Robert Redford, do filme Proposta Indecente, que pagou um milhão pra dar uma com a Demi Moore. Pra Lorena eu pagaria dois milhões.
Amadeu – Deixa o Felinto saber disso! Te enche a cara de porrada!
Fonseca – E a secretária do Donato? Ela deve ter uns 45. Meu Deus!, Meu Deus!, que mulher! Eu era capaz de largar a Lúcia por causa dela.
Amadeu – Eu também daria tudo o que tenho.
Fonseca – Merda!
Amadeu – Merda o quê?
Fonseca –O que tu tens. O Donato já deu pra ela dois apartamentos e um Audi novinho.
Amadeu –Não dá pra competir com esses filhos da puta que cagam dinheiro.
Fonseca – Deus não foi justo com os homens. Na próxima encarnação eu quero vir como mulher. Elas já nascem com um talão de cheques no meio das pernas.
Amadeu – Um talão com milhares de folhas. E bastante saldo.
Fonseca – E aí?, vais deixar como está esse negócio de ‘até 35 anos’?
Amadeu – Tenho que dar a mão à palmatória. Vou permitir até 45 anos.
Fonseca – Eu deixaria esse negócio de idade de lado.
Amadeu – Negativo! Até 45, e pronto! Mais alguma correção?
Fonseca – Infelizmente, sim.
Amadeu – Manda lá!
Fonseca – No teu lugar, eu pediria duas fotos, sendo uma de biquini. Pra fazer o ‘teste da areia’. Ia poupar tempo. Imagina se aparece uma mulher sem peito, sem cintura, barriguda, ou que, de costas, parece uma tábua de passar roupa?
Amadeu – Mas uma mulher assim não é uma mulher acabada. É um feto que cresceu.
Fonseca – Não é isso, ameba. Tô falando de uma mulher com um ou dois dos defeitos citados.
Amadeu – Acho que tens razão. Vou melhorar esse texto.
Fonseca – É isso aí. Tens que te prevenir, cara. Pra que arriscar surpresas desagradáveis? Se vais entrar em campo, que o gramado seja o melhor. Se bem que risco sempre há. Mas tem que ser ‘risco calculado’, né!?
Amadeu – Olha lá!, olha lá!
Fonseca – Olha o quê?
Amadeu – A gatinha que acaba de entrar. Uma deusa!
Fonseca – Cria vergonha nessa cara, meu! Ela podia ser tua neta!
Amadeu – Tá bom, é uma criança! Mas neta? E eu lá tenho idade pra ser avô?
Fonseca – E não tem?
Amadeu – Mas não tenho cara de avô! Nem vocação!
Fonseca – Hummm, lembrei de um detalhe fundamental. Bunda! Ela tem que ter.
Amadeu – Eu sei, eu sei. Só não sei como vou dizer isso. Pode pegar mal. Quem ler vai achar que eu sou um tarado.
Fonseca – E não és? Cara, tu devias estar preso, acorrentado.
Amadeu – Para com a sacanagem, que este assunto é sério. Não vai dar para escrever a palavra bunda. Ia pegar mal.
Fonseca – Temos que pensar numa maneira de dizer sem ofender.
Amadeu – Nádegas, talvez?...
Fonseca – Acho que não! É quase a mesma coisa.
Amadeu – Esse tema tá ficando complicado. Vamos pular essa história de bunda e deixar pra depois.
Fonseca – Agora sou eu que estou com uma dúvida. Se a gente fala nádegas, não seria mais correto dizer ‘bundas’?
Amadeu – Porra, Fonseca, não vamos perder tempo. Nós já não decidimos postergar a decisão sobre como abordar isso?
Fonseca – Gostei do postergar. Andaste lendo um dicionário?
Amadeu – Não enche o saco! Nivaaaaldo!
Nivaldo – Fala, Madeu! Quê que é agora? O copo tá cheio e ainda tem batata no prato.
Amadeu – Quero mandar um torpedo pra coisinha ali, a de blusa azul.
Nivaldo – (Olha pra garota) – Eu me recuso! Ela podia ser tua neta! Onde é que nós estamos? Pedofilia é crime, sabia!?
Amadeu – Já não se fazem garçons como antigamente! Desaparece da minha frente, some! (Virando-se para o Fonseca) – Esse sujeitinho tá ficando confiado!
Fonseca – Isso pode dar cana! O Nivaldo poderia ser acusado de aliciar menores. Acho que ele está certo em recusar.
Amadeu – Até tu, Brutus?
Fonseca – Vamos continuar ou não? Não tenho a tarde toda.
Amadeu – Quero deixar bem claro que voltaremos ao assunto da bunda. A mulher tem que ter! Só não sei como vou pedir.
Fonseca – Tu só vais poder pedir quando estiveres na cama com ela.
Amadeu – Xá de ser burro, meu! Tô falando em pedir pelo anúncio, no sentido de que ela deve preencher esse importante requisito.
Fonseca – Podemos continuar?
Amadeu – Vá em frente! Sou todo ouvidos!
Fonseca – Me veio à cabeça outra coisa: esse negócio de curso superior é mesmo importante?
Amadeu – Muito importante! Detesto mulher burra!
Fonseca – Mas tu pretendes casar ou só comer?
Amadeu – Me reservo o direito de não responder.
Fonseca – Não serve uma com curso superior incompleto? E se tu perdes um mulheraço por causa dessa exigência idiota?
Amadeu – Não tinha pensado nisso.
Fonseca – Se fosse eu, aceitaria uma candidata que tivesse passado no vestibular, mesmo que não tenha cursado a faculdade. Abre mais o ‘leque’.
Amadeu – Preciso pensar no assunto! Há muita coisa em jogo!
Fonseca – Que história é essa de “muita coisa em jogo”? Deixa de ser panaca.
Amadeu – Não podemos esquecer que trata-se do meu futuro sexual.
Fonseca – Nem sei o que estou fazendo aqui. Pura perda de tempo! Tanto trabalho por causa de uma simples ‘piriquita’.
Amadeu – Simples? Desde quando existe uma periquita simples? Cada uma é cada uma, com suas mazelas, seus macetes, suas mumunhas. É a periquita que torna as mulheres complicadas. Elas vivem a eterna busca, como os pés, de um ‘sapato’ do tamanho certo.
Fonseca – Isso dá samba! As mazelas da periquita...
Amadeu – Sabe de uma coisa? Vou pedir uma que tenha, pelo menos, completado o curso médio. A minha ex era formada e pós-graduada, e nem por isso deu certo.
Fonseca – Agora tu estás acompanhando o meu raciocínio. Desde quando genitália precisa ser diplomada?
Amadeu – Fala mais sobre o anúncio. O que ainda está errado?
Fonseca – Deixa eu reler... (pegando a folha de papel) – Esqueceste de mencionar os bairros. Já pensaste se aparece uma candidata que mora lá na ‘puta que pariu’?
Amadeu – E onde fica isso?
Fonseca – Sei lá! Caxias, Vicente de Carvalho, qualquer lugar do subúrbio.
Amadeu – Isso é preconceito! Sabias que no subúrbio tem cada gata...
Fonseca – Pode ser, mas vais ter que ir buscar de carro. Pensa só: viajar quase uma hora só de ida. Acho que não vale a pena. Não tem tesão que se firme.
Amadeu – É melhor pedir mulheres da Zona Sul. Preferencialmente no perímetro entre Flamengo e Gávea.
Fonseca – Só pra saber: as da Barra estão fora? A Barra fica um pouco longe, não é Zona Sul, mas tem cada mulher... E as que moram na Tijuca? A Tijuca é a zona sul da Zona Norte.
Amadeu – Mas não vai ficar muito longo?
Fonseca – Escreve apenas Zona Sul, Barra e Tijuca. Tens que ser bem explícito.
Amadeu – Isso vai parecer preconceito...
Fonseca – Me aponta um único ser humano que não tenha algum.  
Amadeu – Bem, pode ser que seja verdade, mas...
Fonseca – Mas o quê? Conta nos dedos da mão esquerda do Lula os negros que, depois de ficar ricos, casam com uma negra. Isso não é preconceito?
Amadeu – OK, tô convencido!
Fonseca - Falando em explícito, me lembrei de implícito. E se a gente pedisse uma mulher com bunda, de uma forma implícita?
Amadeu – Não sei como. Tens que explicar como se faz isso. Bunda é bunda, cara. Nunca ouvi falar de bunda implícita.
Fonseca – Vamos pensar melhor pra não fazer besteira. Acabei de lembrar de outro detalhe. O que, exatamente, quiseste dizer com ‘independente’?
Amadeu – Financeiramente, é óbvio!
Fonseca – Acho que ela deve ter carro. Já pensaste no trabalho que dá uma mulher a pé?
Amadeu – Sem carro eu tô fora!
Fonseca – Então inclui aí “que possua condução própria”.
Amadeu – Acho melhor não. Ela pode pensar que eu não tenho carro e que quero me aproveitar do dela.
Fonseca – O Jota é que está certo! Ele não namora nenhuma mulher que more a mais de 400 metros da casa dele.
Amadeu – Em compensação, quando ele acaba um caso, fica um tempão para arrumar outra vizinha. Sim, porque uma que more tão perto é uma vizinha! Melhor não falar em carro.
Fonseca – Tem uma coisa que está me encucando.
Amadeu – Olha só o filho da puta do Nivaldo arrastando asa para aquela que chegou a poucos minutos.
Fonseca – Como tu sabes que ele tá dando em cima?
Amadeu – Num tás vendo a cara do sacana? Conheço essa expressão de “tô querendo”.
Fonseca – Deixa disso! O cara pode estar apenas sendo gentil.
Amadeu – Gentil o cacete! Tu não viste o ‘choro’ que ele deu na dose de uísque dela. Aliás, aquilo nem é mais choro, é um oceano de lágrimas. Conosco ele não dá esse mole.
Fonseca – É que a gente não usa saia. Deixa o cara. Cada um usa as armas de que dispõe.
Amadeu – (garçom filho da puta!) Mas no nosso território?
Fonseca – Voltando à bunda, como é que fica? Temos que dar uma solução. Afinal, é a parte mais importante do corpo feminino. Eu diria como o Vinícius: “As sem bunda que me perdoem, mas bunda é fundamental”.
Amadeu – O Vinícius nunca disse isso!
Fonseca – Não disse, mas pensou!
Amadeu – Ele falou de beleza.
Fonseca – E uma mulher sem bunda tem alguma beleza?
Amadeu – O nobre colega está coberto de razão. Devido à importância do assunto, vamos deixar pro final. Pode ser que surja uma idéia boa.
Fonseca – Uma coisa tá me deixando intrigado. Porquê órfã? E sem filhos?
Amadeu – Órfã? E eu lá quero ter sogra? Acho mesmo que ninguém quer ter. Nem sogra, nem sogro. E nada de crianças. Não tenho mais saco.
Fonseca – E, se possível, nada de cunhados ou cunhadas.
Amadeu – Sobre os cunhados, tudo bem, agora cunhada... aí depende.
Fonseca – Depende do quê?
Amadeu – Depende da cunhada, ora. Uma cunhadinha pode render uns bons dividendos.
Fonseca – Só se ela trabalhar na Bolsa de Valores.
Amadeu – às vezes eu fico querendo descobrir se tu és mesmo um imbecil ou se tás fazendo gênero. Dividendos que eu falo, sua anta, são dividendos sexuais.
Fonseca – Mas tu achas que uma cunhada vai trair a própria irmã?
Amadeu – Acontece! Como acontece.
Fonseca - Já comeste a tua?
Amadeu – Não! A minha é direita! É séria!
Fonseca – É sempre assim! Só as dos outros é que são galinhas. Não sei se estás escondendo o jogo ou sendo sincero.
Amadeu – Sendo sincero!
Fonseca – Não sei por que, mas não acredito nessa tua sinceridade. Em mais de uma ocasião eu notei...
Amadeu – O quê? Notou o quê?
Fonseca – Teu jeito de olhar pra ela.
Amadeu – Só isso?
Fonseca – Tem mais!
Amadeu – Mais o quê? Posso saber o que passa nessa tua mente suja?
Fonseca – Nem vem que não tem! Tu dás a maior bandeira!
Amadeu – Eeeeeu?
Fonseca – Já observei que quando vocês se cumprimentam...
Amadeu – Notou? Notou o quê, exatamente?
Fonseca – Notei que em vez de dois beijinhos no rosto acontece muito mais coisa.
Amadeu – Tás ficando doido?
Fonseca – Ninguém me contou, eu vi com estes olhos que a terra há de comer. Vi que são mais de cinco beijocas.
Amadeu – E daí? Isso é besteira!
Fonseca – Besteira? Desde quando um selinho na própria cunhada é besteira? E tem mais...
Amadeu – Ma-mais?
Fonseca – O abraço entre vocês é tão apertado que não passa nem pensamento. Apertado e demorado.
Amadeu – Eu confesso!
Fonseca – Arrá! Eu sabia! Tens uma deformação moral. Tua testosterona, quando está em alta, não tem limite. Ela é boa na cama?
Amadeu – Peraí, meu! Eu confesso que tenho por ela algum tesão. E só. Nunca aconteceu nadica de nada. E te digo mais: é um tesão respeitoso!
Fonseca – Tesão respeitoso? Essa não!
Amadeu – É, respeitoso!
Fonseca – Desde quando existe tesão respeitoso? O cara chega na mesa do amigo, que está com a mulher, e sapeca: ‘Fulano, parabéns! Tenho o maior tesão pela tua mulher! Mas quero acrescentar que trata-se do mais respeitoso tesão’. Ora vai plantar batatas, antes que eu me esqueça!
Amadeu – Vamos voltar para a bunda? Quero dizer, para o meu anúncio?
Fonseca – Acho uma boa idéia. Mas depois tu vais me contar essa história direito. Sou capaz de apostar qualquer coisa que tu já andaste por lá. Mas eu te perdôo, porque ela é mesmo uma tentação!
Amadeu – Olha lá como tu falas! Respeito é bom e eu gosto!
Fonseca – Tá com ciúme, é? Deixa de ser calhorda!
Amadeu – Já mudei de assunto.
Fonseca – Fazendo um retrospecto, podemos dizer que esta assembléia decidiu que a tua futura mulher deve ter até 45 anos, ser independente financeiramente, deve morar ou na Zona Sul, ou na Barra, ou na Tijuca... ser órfã de pai e mãe – principalmente de mãe -, altura até 1 e 70.
Amadeu - Ainda falta alguma coisa fora a bunda?
Fonseca – (relendo o rascunho) – Tás pedindo manequim 38 ou 40. Eu não concordo!
Amadeu – Mas eu prefiro assim.
Fonseca – Quero lembrar ao distinto amigo que a mulher pode ter um corpinho 40 mas, por causa da bunda e dos seios, ela veste 42. Eu iria até o número 42. Bunda e peito nunca são demais.
Amadeu – OK, de acordo! Vamos passar para outro tópico. O que está faltando analisar?
Fonseca – Cor! Não mencionaste cor!
Amadeu – Eu até que tinha pensado no assunto, mas fiquei com medo. Isso pode dar cadeia! Racismo!
Fonseca – Depende!
Amadeu – Depende de quê?
Fonseca – Primeiro do teu gosto pessoal. Isso é um direito inalienável que qualquer cidadão de bem tem. Está na Constituição!
Amadeu – Em que lugar da Constituição? Isso é novidade pra mim.
Fonseca – Bom, se não está, deveria estar! Temos que ser inteligentes. Vamos redigir de forma que não possas ser acusado de racista.
Amadeu – Aí é que a coisa pega! Não consegui pensar em nada.
Fonseca – Tua sorte é ter um amigo como eu!
Amadeu – Será?
Fonseca – Claro! Inteligente, criativo...
Amadeu – Acho que é só! Não tens mais nenhuma qualidade.
Fonseca – Realmente, se escreveres que não serve mulher de cor, poderás ter problemas com a justiça.
Amadeu – Então como é que eu faço?
Fonseca – (depois de pensar uns instantes) – Não diz o que não queres. Fala da tua preferência por brancas.
Amadeu – E se assim mesmo minhas palavras forem interpretadas como racistas?
Fonseca – Racismo precisa ser provado. Se um branco fizer um anúncio como o teu e escrever que procura uma mulata, tenho certeza que ele não vai ser acusado de nada.
Amadeu – Tás falando em causa própria, né!?
Fonseca – Não vou negar que gosto de uma escurinha.
Amadeu – E de uma branquinha, de uma lourinha, de uma japonesinha... Depois sou eu que sou tarado! (Pequena pausa) – Como é que eu escrevo isso?
Fonseca – Sei lá! Contrata um jornalista para redigir para ti. Ele vai saber como abordar o assunto.
Amadeu – Contratar coisa nenhuma! Vou falar com o Renato! Ele trabalha no Globo e escreve umas merdas sobre política. Ele deve saber o que fazer. Nunca imaginei que redigir um simples anúncio pra pedir uma simples mulher desse tanto trabalho.
Fonseca – Simples mulher? Desde quando existe mulher simples?
Amadeu – O nobre colega tem toda razão. Ninguém entende as mulheres!
Fonseca – Ninguém o cacete! Qualquer boiola sabe tudo sobre elas; como pensam, como sentem, do que gostam... É por aí. Aliás, veado é mesmo burro.
Amadeu – Sempre ouvi dizer que eles são inteligentes.
Fonseca – Se eu fosse bicha ia ser consultor, com placa na porta e firma registrada. Ia ensinar, pra gente como nós, a ganhar tudo quanto é mulher.
Amadeu – Ias ser uma bicha rica! Nivaldo! Por onde andas, meu garçom preferido?
Fonseca – O Nivaldo tá dando plantão na mesa daquela boazuda! Esqueceu da gente!
Amadeu – Exercer a profissão de garçom não combina com galinhagem! Acho que vou fazer uma representação contra ele.
Fonseca - Vais te queixar pra quem?
Amadeu – Pro maitre!
Fonseca – E desde quando esta merda de boteco tem maitre?
Amadeu – É por isso que essa porra não vai pra frente!
Fonseca – Não vamos dispersar nosso raciocínio. Já pensaste sobre a bunda?
Amadeu – Até agora, nada!
Fonseca – Nunca pedir uma bunda me deu tanto trabalho!
Amadeu – Acabou de me ocorrer uma idéia. A bunda não é uma protuberância?
Fonseca – Tecnicamente falando, não deixa de ser.
Amadeu – E se eu disser que ela deve ter uma protuberância?
Fonseca – Detesto ser estraga-prazer, mas pode haver uma protuberância em qualquer parte do corpo. Uma corcunda é uma protuberância!
Amadeu – Basta dar a localização exata de onde deve estar o ‘calombo’.
Fonseca – E como vais dar a localização exata?
Amadeu – Como? Como? Ora como! Dizendo!
Fonseca – Vai cair na mesma situação. Pensa: “A candidata deve possuir uma protuberância localizada abaixo da região lombar”. Fica até pior.
Amadeu – Droga de bunda! Empacamos! Outra coisa: acho que não devemos nos referir à mulher como candidata.
Fonseca – Se esse problema tivesse caído na prova de vestibular eu nunca teria me formado! Vou acabar deixando de gostar.
Amadeu – Deixando de gostar de quê, posso saber?
Fonseca – De bunda, o que mais!? Tô ficando enjoado de tanto falar nisso. E se tu escreveres que a mulher dos teus sonhos deve lembrar a Vênus Calipígia?
Amadeu – Ela vai saber quem é essa?
Fonseca – Se não for burra, vai!
Amadeu – E qual é a mulher que tiveste que não é burra? Aliás, para sair contigo ela devia ter o cérebro de minhoca, se minhoca tiver cérebro.
Fonseca – Vou fingir que não ouvi essa piada sem graça.
Amadeu - Eu não devia ter mostrado o meu anúncio. Tava bom como tava. Foste dar palpite e...  É ela! Acaba de entrar, camiseta amarela, sem sutiã...
Fonseca – Ela quem?
Amadeu – A ‘minha’ bunda. (em seguida amassou o rascunho e jogou no cinzeiro)
 

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