QUEM É QUEM
Não me diga que você conhece profundamente
alguém. Não conhece. Você pode até pensar e acreditar nisso, mas como conhecer
alguém que não conhece a si mesmo? Com frequência ficamos surpresos com nossas
próprias reações.
A realidade é que as pessoas sabem ‘o que
gostariam de ser’, e adotam, devido a isso, posições equivocadas ao tentar
prever o imprevisível.
Esta semana escrevi um texto intitulado “Você
é Vinícius ou Chico?”, que resumia as duas maneiras de ser dos seres humanos:
mais emotivo ou mais racional. Eu sei que nada é simples assim, e que muitas
vezes o sujeito é ora um pouco mais Chico, ora um pouco mais Vinícius. Mas não
pretendo escrever um tratado do comportamento humano, até porque minha
competência esbarraria no limite de si mesma.
Entretanto, podemos saber mais ou menos o que
esperar de alguém que ‘conhecemos’, se prestamos muita atenção nas suas ações.
O problema é que geralmente ‘passamos batido’ e não observamos atentamente a
sequência de atos que caracterizam o nosso próximo mais próximo. Não é incomum
que cheguemos à conclusão que “se tivéssemos rastreado um pouco mais” o
comportamento de alguém, possivelmente evitaríamos surpresas e decepções. O ser
humano não é tão imprevisível como pensamos.
Para ter esse tipo de percepção, você precisa
ser como eu, um desocupado que gosta de pensar – uma combinação rara entre os
homens.
Uma conhecida escreveu-me sobre o texto que
citei acima. Ela “adorou” o que escrevi e logo se apressou em dizer que age
mais como o Vinícius. Não é verdade. Mas também não é mentira. Ela apenas pensa
que é como disse ser. Pensa e acredita no que pensa. Sua (dela) história conta
outra coisa.
Mas, quando nos identificamos com o Vinícius de Moraes, desejamos parecer
mais simpáticos, ou, quem sabe, mais 'humanos'. É um erro que as pessoas considerem que quem é mais racional é
simplesmente um calculista que não se emociona ou comove. Acontece que minha
conhecida é calculista, incapaz de se deixar levar pela emoção se perceber que
é mais vantagem agir de maneira racional.
Há pessoas que preferem viver. Outras, optam
por ser razoavelmente felizes, sem correr os grandes riscos que toda emoção
pode trazer.
Todos nós, sem exceção, guardamos segredos que não queremos revelar ou mesmo admitir. Não espere encontrar pessoas que digam sempre a verdade. Elas não existem.
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