quarta-feira, outubro 31, 2012

O BEIJO


Para quem não sabe, Augusto dos Anjos foi um dos grandes poetas da nossa língua. A maneira crua com que expôs a essência do ser humano transformou-o num poeta maldito. Ninguém aprecia a verdade.



     A MÃO QUE ACARICIA

 
     A mão que acaricia é a mesma que apedreja. Isso é o que acontece em tudo da vida. Na política ou no amor, nos negócios, só ferimos quem já desempenhou um papel importante na nossa vida. Disso não há como escapar; nem se contabiliza exceção alguma.
 
     Lembro de um casal amigo, gente muito boa, que sempre elogiava as qualidades da nora querida. Até ela e o filho do casal decidirem se separar; daí em diante, divórcio consumado, foi dito aos amigos que a moça era egoísta, não era boa esposa, essas coisas vagas que dizem tudo sem nada explicar.
 
     Se eu fosse político, nunca, nunca mesmo, tentaria fazer meu sucessor se isso me fosse possível. Não por ele, mas por mim mesmo. Quem faz seu sucessor geralmente acredita que ainda governa. Quando o afilhado tem vontade própria e personalidade forte, não resta outro caminho que não seja o surgimento de uma nova inimizade. Aliás, a frese “quanto custa um deputado?” não é piada; todos têm seu preço e só nos vendemos quando o lance certo é ofertado. Dilma aceita fazer o que o Lula manda por não passar de um ‘poste’. Um poste sem lâmpada, sem brilho próprio.
 
     Acho engraçado o tempo que pode levar para que uma pessoa conheça outra, mesmo que vivam juntos por muitos anos. O Capeta não acha tão difícil descobrir como cada um é. Questão de simples observação, prática que, por vaidade, teimamos em não adotar. Como assim, por vaidade?, o leitor pode perguntar. É que para os seres humanos é muito doloroso reconhecer que fez a escolha errada, dizer para si próprio e para os amigos que ‘dormiu no ponto’. Que devia ter sido mais atento. Que o sexo embotou o raciocínio lógico. A própria culpa é algo que os humanos odeiam e repudiam.
 
     Finalmente, a mais comum das desavenças é causada pelo o dinheiro. Ele consegue calar ou fazer uma pessoa falar o que sabe e o que não sabe. Nenhum ódio é maior do que o resultante de nos sentirmos passados para trás em relação ao vil metal.  Não devia ser assim, mas é. E tem uma explicação para isso: a certeza que podemos comprar a felicidade. A diferença é que as pessoas se vendem, mas a felicidade não tem preço. Isso não é romantismo ou poesia, é a realidade que você, ser tiver sorte, vai descobrir um dia. Ou não.

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