TUDO É FICÇÃO
Tudo é ficção. Nada é
absolutamente real. A verdade verdadeira nunca será do conhecimento de ninguém.
Se você leu, viu ou ouviu, assim mesmo não saberá o que houve. É mais ou menos
como quando alguém diz que ‘tal lei é muito clara’. Não existe lei clara, definitiva.
O julgamento do mensalão é a prova disso. Todas (falo das leis) precisam ser
interpretadas e reinterpretadas, pois dependem, sempre, de um ‘mas’, um ‘se’,
um ‘no caso de’, e até mesmo da ‘intenção’ de alguém – uma coisa difícil de
garantir.
Eu era adolescente quando o
professor que dava aula tentou mostrar que nada pode ser crível, não
totalmente. Ficamos lado a lado dez alunos, e o primeiro cochichou um segredo
para o segundo, que por sua vez transmitiu ao terceiro, e assim por diante.
Cada aluno então escreveu o que tinha ouvido do colega, e foram conferir as
respostas. Não houve uma só que fosse igual à outra. Na última, escrita pelo
décimo aluno, sequer se identificava com a primeira. É que nossa mente ‘viaja’,
independente da nossa vontade. Tudo que é dito sofre as mais díspares
interpretações, que traduzimos conforme nosso próprio entendimento. Fora isso,
quem não gosta de ‘sensacionalizar’ uma narrativa? Todos tendemos ao exagero, com o objetivo (algumas vezes inconsciente) de prender a atenção dos ouvintes.
O crítico profissional de
artes plásticas, música ou literatura, é o sujeito que vê, na peça analisada,
intenções que sequer passaram pela cabeça do autor. Ao tentar entrar na mente
de quem cria, ele deve sentir-se Deus. Coitado.
Uma simples e aparentemente
insignificante vírgula tem o poder de mudar inteiramente o sentido de uma
frase. E muitas vezes ela nem é percebida. A entonação dada à voz de quem fala
ou narra, modifica a intenção de quem a proferiu. Isso pode ser intencional ou
não. Num romance de ‘ficção’, quanto de sua própria história o autor introduz
nos ‘acontecimentos’?
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