quarta-feira, outubro 03, 2012

SOMOS TODOS FICCIONISTAS

Esta figura representa uma passagem da Bíblia, o livro de fábulas mais imaginativo de todos os tempos. Nele podemos constatar que a criatividade do narrador não tem limites

 
TUDO É FICÇÃO

     Tudo é ficção. Nada é absolutamente real. A verdade verdadeira nunca será do conhecimento de ninguém. Se você leu, viu ou ouviu, assim mesmo não saberá o que houve. É mais ou menos como quando alguém diz que ‘tal lei é muito clara’. Não existe lei clara, definitiva. O julgamento do mensalão é a prova disso. Todas (falo das leis) precisam ser interpretadas e reinterpretadas, pois dependem, sempre, de um ‘mas’, um ‘se’, um ‘no caso de’, e até mesmo da ‘intenção’ de alguém – uma coisa difícil de garantir.

     Eu era adolescente quando o professor que dava aula tentou mostrar que nada pode ser crível, não totalmente. Ficamos lado a lado dez alunos, e o primeiro cochichou um segredo para o segundo, que por sua vez transmitiu ao terceiro, e assim por diante. Cada aluno então escreveu o que tinha ouvido do colega, e foram conferir as respostas. Não houve uma só que fosse igual à outra. Na última, escrita pelo décimo aluno, sequer se identificava com a primeira. É que nossa mente ‘viaja’, independente da nossa vontade. Tudo que é dito sofre as mais díspares interpretações, que traduzimos conforme nosso próprio entendimento. Fora isso, quem não gosta de ‘sensacionalizar’ uma narrativa? Todos tendemos ao exagero, com o objetivo (algumas vezes inconsciente) de prender a atenção dos ouvintes.

     O crítico profissional de artes plásticas, música ou literatura, é o sujeito que vê, na peça analisada, intenções que sequer passaram pela cabeça do autor. Ao tentar entrar na mente de quem cria, ele deve sentir-se Deus. Coitado.

    Uma simples e aparentemente insignificante vírgula tem o poder de mudar inteiramente o sentido de uma frase. E muitas vezes ela nem é percebida. A entonação dada à voz de quem fala ou narra, modifica a intenção de quem a proferiu. Isso pode ser intencional ou não. Num romance de ‘ficção’, quanto de sua própria história o autor introduz nos ‘acontecimentos’?

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