APROPRIAÇÃO DE IDEIAS
Tenho uma teoria sobre o tema: todo mundo se
apropria de um pouco de tudo. Penso que uma ideia, por mais inovadora que seja,
não nasce. Apenas se transformou e evoluiu, adaptando-se ao contexto atual.
As grandes descobertas da ciência médica, por
exemplo, somente acontecem porque outras ideias e invenções a antecederam. Hoje
a medicina se utiliza das impressoras em 3D para fabricar órgãos que
substituem, nos seres humanos, os que funcionam mal. Imagino que quem inventou
essas impressoras não fazia a menor ideia sobre as possibilidades de sua
utilização na fabricação de órgãos humanos.
Temerário é dizer que um romancista se
apropriou do pensamento alheio; Oscar Wilde, escritor que viveu no século 19,
disse que “Cínico é quem vê as coisas como elas são, em vez de velas como
deveriam ser”. Cem anos depois, Millôr escreveu que “o equilíbrio social só
existe por conta da hipocrisia” – o que vem a ser a mesma coisa, com outras
palavras. Mas o genial e insubstituível Millôr jamais cometeria plágio. Pelo
que tenho visto na imprensa, ele não é lembrado como merecia: um dos maiores
pensadores do nosso tempo.
A pureza das novas ideias inexiste. Todas
trazem algum carimbo de outra que a antecedeu. Por conta disso, o importante é
saber traduzir um pensamento antigo (todos são) com palavras próprias e mais
objetivas, de acordo com o nosso tempo. Muitas vezes com algum acréscimo.
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