segunda-feira, abril 07, 2014

UMA FÁBRICA DE PENSAMENTOS

Esse aí é o Millôr Fernandes, na minha opinião, o maior pensador do Brasil dos últimos 100 anos. Este artigo não é sobre ele, mas suas ideias são parte da nossa realidade.


  APROPRIAÇÃO DE IDEIAS
 
  Tenho uma teoria sobre o tema: todo mundo se apropria de um pouco de tudo. Penso que uma ideia, por mais inovadora que seja, não nasce. Apenas se transformou e evoluiu, adaptando-se ao contexto atual.  
 
  As grandes descobertas da ciência médica, por exemplo, somente acontecem porque outras ideias e invenções a antecederam. Hoje a medicina se utiliza das impressoras em 3D para fabricar órgãos que substituem, nos seres humanos, os que funcionam mal. Imagino que quem inventou essas impressoras não fazia a menor ideia sobre as possibilidades de sua utilização na fabricação de órgãos humanos.
 
  Temerário é dizer que um romancista se apropriou do pensamento alheio; Oscar Wilde, escritor que viveu no século 19, disse que “Cínico é quem vê as coisas como elas são, em vez de velas como deveriam ser”. Cem anos depois, Millôr escreveu que “o equilíbrio social só existe por conta da hipocrisia” – o que vem a ser a mesma coisa, com outras palavras. Mas o genial e insubstituível Millôr jamais cometeria plágio. Pelo que tenho visto na imprensa, ele não é lembrado como merecia: um dos maiores pensadores do nosso tempo.
 
  A pureza das novas ideias inexiste. Todas trazem algum carimbo de outra que a antecedeu. Por conta disso, o importante é saber traduzir um pensamento antigo (todos são) com palavras próprias e mais objetivas, de acordo com o nosso tempo. Muitas vezes com algum acréscimo.

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