quarta-feira, setembro 12, 2012

A MÃE DO SUPERVISOR

Não se irrite. Chame-o de filho e pergunte delicadamente como está sua mamãe. Fale da saudade que sente dela. Confira se ela ainda está no bordel.


    SUPERVISOR DE ATENDIMENTO

                                                        
   Nome pomposo. Dá idéia de poder, de competência, de pragmatismo, de jogo de cintura, de conhecimento dos problemas - dos nossos problemas. Super é um prefixo que nos remete a figuras lendárias, heróicas, como o Super-Homem, o super-time que conquistou a copa de 70, e outros tantos. Quem nunca ouviu um pai ou uma mãe proferir repetida e cansativamente que seus filhos são superinteligentes, superprecoces, achando que quem ouve vai acreditar?
 
   Proliferam super-heróis de todas as nacionalidades – acho que os inglêses são os mais supercriativos, já que tiraram da imaginação um superdetetive, o Sherlock Holmes; um superespião (Bond, o James Bond) que traçava as mulheres e matava os homens; o cruzado rei Arthur da mesa redonda (cuja mulher o corneou com seu mais fiel cavaleiro, Sir Lancelot - mas isso é um detalhe sem importância, dada a magnitude do personagem); Robin Hood (um economista que inventou a distribuição de renda); e até mesmo um superlíder do porte de Churchill, que lutou e venceu uma guerra (virtual): comandou tudo à distância, tomando porres e fumando charutos, sem nunca ter se aproximado de um campo de batalha, num tempo em que nem havia celular.
 
   O 'super' que deu origem a esta crônica é mesmo um brasileiro, provavelmente oriundo da caatinga, que supera qualquer expectativa ruim que se tenha. É o grande, o insuperável, o superinútil SUPERVISOR DE ATENDIMENTO AO CLIENTE. Nosso herói se esconde, e sua tarefa seria resolver o que os ‘atendentes’ não conseguem atender: nossas reivindicações. Sempre que a paciência do suplicante se esgota, ele procura lembrar em qual bordel conheceu a mãe desse super-herói brasileiro. Decidido a esclarecer a dúvida, manda chamar o indivíduo às falas, e este geralmente está em reunião ou na hora do almoço. Você não acredita. Vocifera. Pensa em chamar vários palavrões do seu extenso repertório (brasileiro nato sempre possui uma cultura de palavrões de dar inveja), mas se controla ao lembrar daquela voz impessoal que repete  “Para sua segurança, esta conversa pode estar sendo gravada!”. Como pode? Ou está sendo ou não.
 
   Mas nosso supervisor não existe. É como os super-heróis ingleses: uma lenda. Invençãozinha cretina essa. Estou exagerando? Então pense: alguma vez você já conseguiu falar com algum supervisor de atendimento, digamos, da OI? E por que eles nunca atendem, se são ‘de atendimento ao cliente’? Vai ver eles são como alguns funcionários – perdão, servidores - que trabalham nos gabinetes de muitos deputados e senadores: invisíveis. Aparecem uma vez por mês para receber o salário.
 
   Eu odeio supervisores. Quem não os odeia? Assim mesmo, meu maior sonho é ser supervisor - não gosto de trabalhar. E o seu? Sei: seu grande sonho é matar um supervisor. Vá em frente. Não é bom reprimir emoções e instintos, por mais primitivos que estes sejam. Qualquer juiz compreenderá seu ato, e lhe dará uma pena leve, tipo serviços comunitários. A dificuldade em perpetrar esse desejo coletivo consiste em obter uma prova de que ele existe mesmo.

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