A PAZ DE SER ATEU
Quando era criança, lá pelos 11 ou 12
anos, lembro perfeitamente que dizia a todos que "não acreditava em
Deus". O horror das pessoas era tão evidente, que hoje me pergunto se
entendiam que eu não acreditava "na existência" de Deus. Acho que
pensavam que eu chamava Deus de mentiroso. Nessa época,
perguntavam: "tu és ateu?", da mesma forma que hoje perguntam se o
cara tem AIDS. Ou se ele matou a mãe. Uma expressão esquisita, que misturava
desprezo, raiva, deboche, incredulidade e surpresa, ficava estampada no rosto
das pessoas – sentimentos típicos da 'piedade cristã'.
As convicções de um pré-adolescente não são
muito firmes. Assim, acabei "tentando acreditar" que Deus existia –
apesar de não conseguir compreender como Ele poderia ser considerado “bem
intencionado”, tendo criado um mundo assim, tipo o nosso.
Os anos foram passando, e eu era um
"meio cristão", não acreditava muito em Cristo, e me
esforçava para aceitar 'um ser superior' que estava em toda parte decidindo
tudo. Duvidei de tanto poder, e passei a achar que se havia um criador, ele não
interferia em nada: criou e morreu, provavelmente de vergonha.
É verdade que quase toda a humanidade crê
(?) em algum deus. Mas, por que eles estariam certos? Uma frase do Nelson
Rodrigues pipocava na minha cabeça: "Toda unanimidade é burra". E é. A unanimidade é a negação do
raciocínio individual, da vontade própria.
Um dos defeitos do ser humano é que ele não tem facilidade para voltar atrás.
Existe uma espécie de vergonha por 'termos sido' algo e mudarmos de idéia
quanto a isso ou aquilo. Assim, uma vez católico...
Hoje sou um ateu assumido e convicto, vivo em paz.
Observo que algumas pessoas têm uma espécie de "pena" de mim. Mas o inverso é
mais verdadeiro: EU tenho pena delas porque permanecem na obscuridade,
acreditando no inacreditável e tentando ‘parecer’ bons enquanto cometem
atrocidades e ignomínias.
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