A PESQUISA
Outro
dia fiquei pensando porque a ex se chama ex. Para ter certeza, procurei um
dicionário para entender o significado da, digamos, palavra. Encontrei várias
definições que não explicaram coisa alguma. Logo percebi um motivo para a ex se
chamar ex. Como na ‘não’ explicação do dicionário, ex pode ser definida como alguém
ininteligível. Havia coerência na ‘não explicação’, pois, para início de
conversa, ‘a ex’ é uma mulher.
Decidi fazer uma pesquisa de campo, fiz perguntas aos amigos que tinham
ex. Constatei que cada ex é única, sendo definida por cada entrevistado de
maneira bem diferente dos outros entrevistados. Minha tarefa ia ser mais
complicada do que imaginei a princípio. Muitos, no meu lugar, desistiriam. Eu
persisti. Tinha que encontrar a definição que ‘encaixasse’ em todas elas Nada.
Não sou homem de renunciar fácil. Já que nem o dicionário conseguia
explicar o que é uma ex, procurei nos escaninhos das minhas lembranças. Comecei
pelas minhas ex. Uma coisa eu logo vi: não posso dizer “minhas ex”, pois todas
já eram de outros. Há mulheres que encaram ser ex como uma profissão. Uma
vocação.
Mudei então, mais uma vez, minha técnica de pesquisa. Falei com homens
considerados sábios, experientes, vividos. Não ouvi uma só resposta igual à
outra. E foi o único assunto que os fez gaguejarem. Comecei a me sentir
inseguro quanto ao resultado da minha busca. Acabei sendo recompensado ao
descobrir algo que não estava na pesquisa: eu não sou único. Sou muitos. Ao falar
com amigas das minhas ‘ex-ex-minhas’, comecei a ter dúvidas sobre quem eu era.
Cada ex me descrevia com uma personalidade diferente. Para umas, eu fui
‘bonzinho’. Para outras não passei de um maníaco sexual. Por umas fui odiado.
Para algumas, fui o melhor que lhes aconteceu. Nem Freud iria entender. Mas
aprendi mais uma coisa: mulher não pode escrever biografia; elas são muito
passionais e, portanto, incapazes de dizer coisa com coisa. Para elas, só
existe a verdade delas. Ponto.
Sobre o resultado da minha ‘investigação’, uma coisa ficou clara:
existem dois tipos de ex: a que não teve filhos seus e, é óbvio, a que teve. Da
primeira você pode até ficar livre um dia. Já da segunda, será quase impossível.
Conclusão: Uma ex é uma ex, ou seja,
aquela que sabe tudo sobre sua pessoa e sobre quem você nada sabe. Quase nada.
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