quinta-feira, maio 03, 2012

SER OU NÃO SER...


QUEM É PROSTITUTA?

   Classificar alguém é complicado, talvez quase impossível. Eu disse talvez. O uso mais corrente do verbo é para determinar categorias e classes ou qualificar.  Tenho ouvido de muitos lábios a utilização (questionável) da palavra ‘puta’, para tachar uma mulher que acreditamos ter ido praticar sexo em troca de dinheiro. Tudo bem, o significado da palavra original é ‘prostituta’, e significa isso mesmo. Entretanto, se analisarmos um pouquinho, veremos que há controvérsias quanto à propriedade da aplicação do vocábulo na maioria dos casos. 
   Gosto de citar Oscar Wilde: “Cínico é quem vê as coisas como elas são, em vez de vê-las como deveriam ser”. A frase foi dita com ferina ironia, pois nos mostra que a moral – nem sei se ela existe ou é praticada – quase sempre está invertida, pendendo para os interesses de quem diz praticá-la, ou para os costumes de um povo – nem sempre partilhado pela maioria que a defende.
   Na tentativa de ser o mais realista possível, acredito que a definição de prostitua está incompleta, por isso mesmo é mal aplicada. Vou dar um exemplo de palavra que peguei no Aurélio: o sétimo significado da palavra ‘vagabundo’ diz que a pessoa “ociosa ou desocupada” se encaixa na definição. Há quem discorde. Vagabundo pode ser outra coisa, menos isso. Até porque temos que respeitar as diferenças e isso inclui a atividade de cada um, seu ‘tipo’ de ocupação. Tem gente que não faz nada – aparentemente. Voltando às prostitutas, considero a definição incompleta e o uso geralmente equivocado. Fiquei revoltado quando li, ainda adolescente, que toda mulher era uma prostituta em potencial – e a maioria poderia ser enquadrada realmente. Eu era muito jovem para entender o significado das palavras que acabara de ler.
   A antropologia, ciência que estuda as características biológicas e socioculturais do ser humano, explica, em parte, por que somos como somos. Esses estudos mostram o comportamento de homens e mulheres através dos milênios, e apontam peculiaridades de cada sexo, desenvolvidas por nossos antepassados e que evoluem conforme as dificuldades que vivenciamos. A tecnologia também exerce uma influência esmagadora sobre a evolução dos costumes.
   O comportamento da mulher, prostituta ou não, é conseqüência da necessidade de sobreviver do melhor modo possível. Pense sobre a pergunta que farei a seguir: Uma pessoa que matou ‘apenas’ dois semelhantes é menos assassina que aquela que matou dez? Agora, deixemos as analogias de lado e vamos direto ao ponto: Uma mulher que só se relaciona com homens ricos é menos prostituta do que aquela que “cobra” seus serviços de maneira mais direta? Cada uma escolheu o caminho que mais combinava com suas características, sendo que ambas praticam a mesma “religião”.
   As mulheres, com mais fragilidade física, através dos tempos sempre procuraram proteção, seja de um grupo ou família. Sentiram necessidade de proteger seus filhos e garantir-lhes uma vida melhor. O homem, tradicional provedor das necessidades básicas – pelo menos até recentemente, quanto mais forte e poderoso... Mais atraente. Desconhecer essa realidade é pactuar com a ignorância. O interesse é parte indissolúvel do DNA humano. As mulheres desenvolveram melhor essa característica por pura necessidade.
   Bem, para concluir o raciocínio, podemos dizer que uma mulher que se relaciona por dinheiro (leia-se segurança, vida melhor) não deveria ser discriminada – o que só ocorre, aliás, se ela for pobre. Existe uma diferença entre sair com alguém por interesse no que lhe pode ser proporcionado e uma que seja capaz de ‘tudo’ para alcançar um objetivo imediato. Quando eu era criança, cansei de ouvir pais aconselharem as filhas a conseguir um bom partido. Estariam eles empurrando sua queridinha para a prostituição? Creio que não.
   O que torna as prostitutas ‘de baixo nível’ sem educação e despreparadas é justamente a discriminação que as impede de evoluir. Quanto às outras, assumem a profissão por gosto e preferência. Vendem o que lhes pertence. Não estão roubando. Termino com uma última pergunta: Para você, quem tem mais moral, uma prostituta, que trabalha duro para ganhar o pão de cada dia, ou um político?

Nenhum comentário:

Postar um comentário