QUEM É PROSTITUTA?
Classificar alguém é
complicado, talvez quase impossível. Eu disse talvez. O uso mais corrente do
verbo é para determinar categorias e classes ou qualificar. Tenho ouvido de muitos lábios a utilização
(questionável) da palavra ‘puta’, para tachar uma mulher que acreditamos ter
ido praticar sexo em troca de dinheiro. Tudo bem, o significado da palavra
original é ‘prostituta’, e significa isso mesmo. Entretanto, se analisarmos um
pouquinho, veremos que há controvérsias quanto à propriedade da aplicação do
vocábulo na maioria dos casos.
Gosto de citar Oscar
Wilde: “Cínico é quem vê as coisas como elas são, em vez de vê-las como
deveriam ser”. A frase foi dita com ferina ironia, pois nos mostra que a moral
– nem sei se ela existe ou é praticada – quase sempre está invertida, pendendo
para os interesses de quem diz praticá-la, ou para os costumes de um povo – nem
sempre partilhado pela maioria que a defende.
Na tentativa de ser o
mais realista possível, acredito que a definição de prostitua está incompleta,
por isso mesmo é mal aplicada. Vou dar um exemplo de palavra que peguei no
Aurélio: o sétimo significado da palavra ‘vagabundo’ diz que a pessoa “ociosa
ou desocupada” se encaixa na definição. Há quem discorde. Vagabundo pode ser
outra coisa, menos isso. Até porque temos que respeitar as diferenças e isso
inclui a atividade de cada um, seu ‘tipo’ de ocupação. Tem gente que não faz
nada – aparentemente. Voltando às prostitutas, considero a definição incompleta
e o uso geralmente equivocado. Fiquei revoltado quando li, ainda adolescente,
que toda mulher era uma prostituta em potencial – e a maioria poderia ser
enquadrada realmente. Eu era muito jovem para entender o significado das
palavras que acabara de ler.
A antropologia, ciência
que estuda as características biológicas e socioculturais do ser humano,
explica, em parte, por que somos como somos. Esses estudos mostram o
comportamento de homens e mulheres através dos milênios, e apontam peculiaridades
de cada sexo, desenvolvidas por nossos antepassados e que evoluem conforme as
dificuldades que vivenciamos. A tecnologia também exerce uma influência
esmagadora sobre a evolução dos costumes.
O comportamento da
mulher, prostituta ou não, é conseqüência da necessidade de sobreviver do
melhor modo possível. Pense sobre a pergunta que farei a seguir: Uma pessoa que
matou ‘apenas’ dois semelhantes é menos assassina que aquela que matou dez? Agora,
deixemos as analogias de lado e vamos direto ao ponto: Uma mulher que só se
relaciona com homens ricos é menos prostituta do que aquela que “cobra” seus
serviços de maneira mais direta? Cada uma escolheu o caminho que mais combinava
com suas características, sendo que ambas praticam a mesma “religião”.
As mulheres, com mais
fragilidade física, através dos tempos sempre procuraram proteção, seja de um
grupo ou família. Sentiram necessidade de proteger seus filhos e garantir-lhes
uma vida melhor. O homem, tradicional provedor das necessidades básicas – pelo
menos até recentemente, quanto mais forte e poderoso... Mais atraente.
Desconhecer essa realidade é pactuar com a ignorância. O interesse é parte
indissolúvel do DNA humano. As mulheres desenvolveram melhor essa
característica por pura necessidade.
Bem, para concluir o
raciocínio, podemos dizer que uma mulher que se relaciona por dinheiro (leia-se
segurança, vida melhor) não deveria ser discriminada – o que só ocorre, aliás,
se ela for pobre. Existe uma diferença entre sair com alguém por interesse no
que lhe pode ser proporcionado e uma que seja capaz de ‘tudo’ para alcançar um
objetivo imediato. Quando eu era criança, cansei de ouvir pais aconselharem as
filhas a conseguir um bom partido. Estariam eles empurrando sua queridinha para
a prostituição? Creio que não.
O que torna as
prostitutas ‘de baixo nível’ sem educação e despreparadas é justamente a
discriminação que as impede de evoluir. Quanto às outras, assumem a profissão
por gosto e preferência. Vendem o que lhes pertence. Não estão roubando.
Termino com uma última pergunta: Para você, quem tem mais moral, uma prostituta,
que trabalha duro para ganhar o pão de cada dia, ou um político?
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