Todo ser vivo, na Terra ou no Mar, já viu uma 'baleia'. Eu mesmo conheci uma que mora ou morou em Brasília. Ela tentou me abocanhar, mas, felizmente, escapei incólume.
O AUTOR DE ‘CURTOS’
Refiro-me, é claro (ou não?), ao escritor
que só escreve textos pequenos. Geralmente são crônicas, contos, comentários,
tudo que faça uma narrativa de 4 linhas a 4 páginas, no máximo. Decidi dar esse
nome para me referir a esse tipo de texto.
Têm muita gente acreditando que autores que
escrevem ‘curtos’ são de 2ª classe, porque seu vocabulário não é muito extenso.
Sem comentários. Pode não parecer, mas escrever ‘curtos’ é muito difícil.
Duvido que Shakespeare ou Dostoiévski soubessem escrever qualquer coisa em uma
ou duas páginas. Esses dois eram espaçosos. É necessário um talento especial
para isso.
Também há os que não consideram que o autor
de ‘curtos’ seja escritor. Para esses, escritor é quem escreve romance. Ou
novelas e contos longos.
Porém - esse porém está em todas -, há um
grande inconveniente em escrever textos pequenos. Escreve-se 100 títulos
enquanto o romancista escreve apenas um. Isso dá mais trabalho. O romancista
enrola muito sobre os mesmos personagens que vivenciam a mesma história; ele já
sai íntimo dos caras. Conta a lenda que Herman Melville, que escreveu “Moby
Dick”, chegou a ficar muito apegado à baleia.
O autor de ‘curtos’ tem que bolar 100
histórias diferentes, com personagens de quem nunca vai ficar íntimo. Cronista
não perde tempo descrevendo como a jovem era gostosa; essa descrição leva no
máximo duas linhas, o resto fica por conta da imaginação do leitor.
Mas há um sofrimento que se abate sobre quem
escreve coisas em poucas linhas: todos os seus amigos, sua mulher, seus filhos,
seus pais e primos, presumem que você escreveu ‘tal coisa’ pensando neles.
Referindo-se a eles. Criticando-os escondido sob o manto da ficção.
Quando a narrativa é sobre um sujeito que se
escondeu no armário para fugir do marido que chegou antes da hora prevista,
logo a carapuça serve em todos os seus conhecidos que viveram uma situação parecida.
Aí começa o infortúnio:
- Eu pedi
pra você não contar pra ninguém.
- Aquele
trecho em que tal coisa acontece, não foi bem assim como o amigo escreveu.
- Se a
minha mulher lê essa ‘porra’, vai saber que escreveste sobre mim.
Sem esquecer dos antigos amigos ou amigas
que ‘adoravam’ ler o que você sempre escreveu, mas que, quando a amizade acaba
(isso é coisa típica de mulher), escreve um e-mail esculhambando sua pessoa e
seus escritos, então descritos, sob a influência do despeito, como ‘literatura
de merda”.
Cronista sofre!
Nenhum comentário:
Postar um comentário