sábado, agosto 31, 2013

MOBY DICK

Todo ser vivo, na Terra ou no Mar, já viu uma 'baleia'. Eu mesmo conheci uma que mora ou morou em Brasília. Ela tentou me abocanhar, mas, felizmente, escapei incólume.
 
 
   O AUTOR DE ‘CURTOS’
 
   Refiro-me, é claro (ou não?), ao escritor que só escreve textos pequenos. Geralmente são crônicas, contos, comentários, tudo que faça uma narrativa de 4 linhas a 4 páginas, no máximo. Decidi dar esse nome para me referir a esse tipo de texto.
   Têm muita gente acreditando que autores que escrevem ‘curtos’ são de 2ª classe, porque seu vocabulário não é muito extenso. Sem comentários. Pode não parecer, mas escrever ‘curtos’ é muito difícil. Duvido que Shakespeare ou Dostoiévski soubessem escrever qualquer coisa em uma ou duas páginas. Esses dois eram espaçosos. É necessário um talento especial para isso.
   Também há os que não consideram que o autor de ‘curtos’ seja escritor. Para esses, escritor é quem escreve romance. Ou novelas e contos longos.
 
   Porém - esse porém está em todas -, há um grande inconveniente em escrever textos pequenos. Escreve-se 100 títulos enquanto o romancista escreve apenas um. Isso dá mais trabalho. O romancista enrola muito sobre os mesmos personagens que vivenciam a mesma história; ele já sai íntimo dos caras. Conta a lenda que Herman Melville, que escreveu “Moby Dick”, chegou a ficar muito apegado à baleia.
   O autor de ‘curtos’ tem que bolar 100 histórias diferentes, com personagens de quem nunca vai ficar íntimo. Cronista não perde tempo descrevendo como a jovem era gostosa; essa descrição leva no máximo duas linhas, o resto fica por conta da imaginação do leitor.
 
   Mas há um sofrimento que se abate sobre quem escreve coisas em poucas linhas: todos os seus amigos, sua mulher, seus filhos, seus pais e primos, presumem que você escreveu ‘tal coisa’ pensando neles. Referindo-se a eles. Criticando-os escondido sob o manto da ficção.
   Quando a narrativa é sobre um sujeito que se escondeu no armário para fugir do marido que chegou antes da hora prevista, logo a carapuça serve em todos os seus conhecidos que viveram uma situação parecida. Aí começa o infortúnio:
 
- Eu pedi pra você não contar pra ninguém.
- Aquele trecho em que tal coisa acontece, não foi bem assim como o amigo escreveu.
- Se a minha mulher lê essa ‘porra’, vai saber que escreveste sobre mim.
 
   Sem esquecer dos antigos amigos ou amigas que ‘adoravam’ ler o que você sempre escreveu, mas que, quando a amizade acaba (isso é coisa típica de mulher), escreve um e-mail esculhambando sua pessoa e seus escritos, então descritos, sob a influência do despeito, como ‘literatura de merda”.
   Cronista sofre!
 


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