Livrei-me de todas as minhas superstições. Bem, quase todas. Ainda tenho dúvida se ver 3 vezes num só dia o José Sarney vai dar azar ou não. Não quero pagar para ver. Prefiro o gato preto.
SUPERSTIÇÃO
Quase todos têm alguma. Superstição é a
idiotice que virou religião. Eu mesmo já tive várias: gato preto passar na
minha frente, passar debaixo de escada, guardar as cédulas de dinheiro numa
certa posição, levar sempre uma nota de dólar na carteira, comer lentilha dia
31 de dezembro, e por aí vai, quero dizer, ia. Tudo isso para não ter azar e
ter sorte.
Até aí, tudo normal. Ou comum, se preferir.
Mas devo reforçar a ideia de que nem tudo que é comum é normal. Teve até uma
superstição que eu tentei adquirir, mas não consegui: entrar em qualquer lugar
com o pé direito; eu esquecia. Entrava com qualquer pé, e uma conhecida disse que
por isso eu fazia tanta besteira. Não foi tanta assim. As poucas que fiz foram,
no entanto, grandes; e só prejudicaram a mim.
Livrar-nos de todas as superstições é quase
impossível, na nossa sociedade. Mas eu consegui. De verdade. Mas só depois que
fiz 60 anos, idade em que tornei-me um Ateu convicto. Eu já era mais ou menos
Ateu antes disso, mas de vez em quando pintava uma dúvida. Por isso eu creio
que ser supersticioso tem tudo a ver com religião, com ter fé em alguma coisa.
Hoje eu não entendo o motivo para que as pessoas digam que para alcançar alguma
coisa que você deseje muito, é preciso ter fé. É ‘balela’. Foi exatamente
quando deixei de ter fé – especialmente nas pessoas – que me tornei alegre e
satisfeito com a vida. Não gosto de usar a palavra “feliz”.
A fé não faz milagres. Acredito mais na
esperança, que pode nos motivar racionalmente. Mesmo a esperança, só funciona
se você partir para a ação.
Com a perda da fé, de qualquer resquício de
religiosidade, percebi que os provérbios são bobagens que as pessoas repetem
tanto que acabam acreditando. Eles, de vez em quando, ‘encaixam’ no momento que
estamos vivendo. Mas é só isso. O provérbio estabelece uma condição de ser
imutável, e tudo na vida é mutável – para o bem ou para o mal. Creio na lei da
probabilidade, mas mesmo ela não é segura. Não há certeza que nos garanta que o
imponderável não vai aparecer sem ter sido convidado. Aliás, ele nunca é
convidado.
Ah, quase esqueci de falar que já fui a
videntes, desses que põem cartas ou jogam búzios. Todos são vigaristas,
conscientes ou não. Mas não perca a fé em mim. Todo sábio já foi ignorante, mas
nenhum ignorante foi sábio.
O que vai determinar sua sorte ou azar é o
acaso. O gato preto não tem influência alguma. No dicionário Aurélio, acaso é “conjunto
de causas imprevisíveis e independentes entre si, que não se prendem a um
encadeamento lógico ou racional, e que determinam um acontecimento qualquer”.
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