quinta-feira, março 07, 2013

MORRENDO, VOCÊ É PROMOVIDO

MORTOS TAMBÉM ASSUSTAM QUANDO CHEGAM AO CÉU. VEJA BEM OS ANJINHOS APAVORADOS.

 
A MORTE TRANSFORMA
 
     Uma tendência, particularmente na América Latina, é a redenção dos mortos. A morte transforma os maus em bons, ou, pelo menos, em ‘menos maus’. Fiquei impressionado com o noticiário televisivo sobre a morte de Hugo Chávez, o índio venezuelano que se tornou ditador, com domínio total sobre o Congresso, as Forças Armadas, o Judiciário e, em parte, a imprensa não tão livre.
     No Brasil, as manchetes que sempre ‘desceram o pau’ no caudilho, passaram a tratá-lo como se tivesse sido um santo. Já vi esse fenômeno aqui mesmo no Brasil, onde Getúlio Vargas foi enxotado num dia, e, ao suicidar-se, virou o melhor homem do país. Na Argentina, um pilantra como Juan Domingo Perón e sua prostituta até hoje são endeusados.
     Em família, nossos próprios parentes, amigos e aderentes são considerados, muitas vezes, o pior do pior. Quando morrem, passam a ser boas pessoas que não foram compreendidas. Viram orgulho de todos nós.  Principalmente se eram ricos ou poderosos.
     Viúvas e viúvos enaltecem o cônjuge que se foi, mesmo que tenham passado a vida atormentando-nos e cometendo falcatruas. A vagabunda vira uma ‘boa mãe’, e o cafageste mau caráter transforma-se, como que por milagre,  num exemplo de pai ou marido.
     Conheço uma velha de 90 anos que, no dia do nascimento de seu finado marido, ou mesmo no dia de finados, fica deprimida e chora de saudade, esquecendo-se de que, ela própria, queria mais que ninguém essa morte. Parece que nos sentimos obrigados a cultuar a memória dos nossos mortos, de modo a garantirmos o mesmo tratamento quando nos formos.
     Depois de ler biografias de gente importante, constatei que nenhum valia mais do que eu ou você. Ficaram conhecidos e famosos por estarem no lugar certo, na hora certa. Ou seja, tiveram sorte. Se você não acredita na sorte, não passa de um imbecil.

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