Adivinhe quem é a dona desta cadelinha? Com certeza é uma perua ou uma bichona.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O BREGA
Você, que sabe distinguir o que é brega,
saberia dizer por que o brega é brega? Acho melhor lembrar que escrevo para uma
elite cultural bem informada, que não exige explicações muito detalhadas para
poder me entender. E o que é exatamente ‘elite cultural’? Depende. Não é
simples de explicar. Pode ser muitas coisas, e o meu assunto hoje é a breguice.
Ser brega não é privilégio de seres
humanos. Objetos também são classificados assim. Então podemos concluir que o
que quer que seja brega, foi feito pelas mãos de pessoas como eu e você. O
brega geralmente é ultrapassado. Fora de época. Coisa antiga? Nem sempre.
Muitas vezes é um estilo que já foi apreciado , mas que cansou. Existe coisa
mais brega do que uma obra de arquitetura projetada pelo catalão Gaudí?
O que torna uma música brega? Muitas
coisas. No caso de músicas, a letra é determinante. Observe que não há música
clássica brega. É por que não têm letra, com raríssimas exceções. A música em
si é atemporal. Existem músicas bregas que são lindas – o que as estraga é o
exagero das letras. Ah, e a cara do intérprete. Parece que o cara nasceu
determinado a ser brega. Quer cara mais brega do que o Nelson Gonçalves, a voz
masculina mais linda que alguém pôde ouvir? Seu repertório é misturado. Algumas
letras são feitas com uma intenção de rimar a qualquer preço. É aí que mora o
perigo. Mas, já no fim da vida, ele experimentou letras mais palatáveis. Pena
que foi no fim da vida. O Waldick Soriano era um brega completo. Cara de brega,
letras musicais bregas – aquelas que rimam morreu com comeu -, e cantar alto
demais, como se estivesse numa ópera.
Um cantor que possua uma bela voz, e
interprete uma música com uma letra duvidosa – mas com muito charme, pode ser
aceito. É o caso da Maria Bethânia, uma das minhas cantoras favoritas. O
Roberto Carlos começou a carreira com alguma breguice, mas, em muitos casos,
alguns lampejos de um estilo Chico Buarque podem ser percebidos.
Um povo pode ser unanimemente brega? Pode.
É o caso dos mexicanos, cujo exagero de mau gosto se espalha por sua cultura,
desde as roupas às músicas e à maneira de cantar. Bem, o que dizer de um povo
que inventou uma Nossa Senhora com cara de caveira?
O que vem a ser uma roupa brega? Muitos
fatores contribuem para que ela (a roupa) se enquadre na definição. Bem, quem
usa e quando usa tem muito a ver. Há pessoas que podem vestir uma roupinha
feita para a Grace Kelly, mas a cara e o jeito cafona de ser estragam sempre.
Depois da novela que lançou as periguetes, maravilhosamente encarnadas pela
Ísis Valverde (um nome brega), as suburbanas – no sentido brega de ser –
passaram a imitá-la, apesar do mau gosto. A apresentadora Ana Maria Braga
veste-se muito mal, assim como a Regina Casé. Aliás, toda coroa que não aceita
envelhecer com naturalidade, acaba por se tornar ridícula e... Brega ou Cafona,
você escolhe. As famosas peruas, que mais parecem árvores de natal. O que as
torna assim? Não sei, e acho que nem Freud explicaria.
Muitos homens também se vestem de maneira
cafona. Existe coisa mais feia do que usar ‘sandália de dedo’, tipo Havaianas, fora
da orla marítima? Andar pela cidade usando camiseta regata é outra coisa. Já
tive um amigo que ia comigo a uma festa e apareceu com uma camisa verde, um
cinto de couro de jacaré, a calça era aquela cor de cocô de criança, e os
sapatos de couro de cobra. Ele ainda está vivo e mora em Belém do Pará. Nem
argumentei. Disse apenas que ou ele trocava suas vestimentas ou não iria
comigo. Ele não iria destruir minha reputação.
Palavras podem estar impregnadas de
breguices, não somente em letras de músicas. Alguns escritores e poetas são
deploráveis, por conta do mau uso das palavras. O enredo pode até ser bom, mas
as palavras escolhidas para dar vida a ele (ao enredo) acabam por destruir todo
o trabalho.
Agora me responda: você se acha brega?
Claro que não, afinal você é meu leitor! Mas nunca deu nem uma escorregada?
Pense bem e não precisa responder.
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