FALÁCIAS
SOBRE A VELHICE
Desde que nascemos, nos transformamos. A
velhice é apenas um estado mutante, em que percebemos mais as características e
intenções das pessoas. Alguns chamam isso de sabedoria. Nem todo velho é sábio,
mas têm a obrigação de não ser burro.
Diz-se que velho não possui uma memória muito
boa. Eu discordo. Acho que há coisas que preferimos não lembrar. Torna a vida
mais fácil de levar. Sobre o momento presente, é costume que se pense que um
velho nem sabe o que almoçou ontem. Não é que seja assim – apenas não interessa
lembrar.
A velhice geralmente (quase sempre) vem
acompanhada de algumas limitações físicas, que podem ser naturais ou
cultivadas. Quando eu tinha 18 anos, adorava passar uma ‘cantada’ numa garota.
Aos 50, não tinha paciência para tentar seduzir. Aos 70, prefiro pagar. Dá
menos trabalho e o custo é menor.
Para quem passou dos 70, o sexo não é o
mesmo. Entretanto, pode ser melhor do que já foi. Por causa da experiência, que
conta muito. Nessa idade é comum que estejamos aposentados, e nossa
concentração fica maior e mais apurada. Gostamos de fazer uma coisa de cada
vez. Muitas vezes até gostamos de ter alguma coisa para fazer.
O problema da idade é que nos tornamos mais e
mais intolerantes com certas coisas, como a burrice, a idiotice, a estupidez –
um velho sábio afasta-se de pessoas, que são quem nos causa aborrecimentos.
Outro dia perguntaram-me seu eu sou tímido.
Respondi que “estou ficando”. É porque quando ouço certas pessoas, percebo que
seria perda de tempo argumentar com elas.
Assistindo um programa de entrevistas,
observei as expressões do Luis Fernando Veríssimo. Não sei o motivo dele não
saber sorrir – tive a impressão que seus dentes são muito feios. Em
compensação, tudo que ele não faz com a boca, faz com os olhos. Por eles você
pode saber se o assunto está interessante, ou se está tendo uma boa ideia, ou
até mesmo achando que o interlocutor é ridículo. É preciso aprender a ler as
pessoas.
Os velhos não têm dificuldade para aprender –
eles apenas não querem aprender o que não lhes interessa. São muito seletivos,
o que não quer dizer que sempre façam as melhores escolhas.
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