FAMÍLIA É... NÃO É!
Família é um desses fenômenos da língua
portuguesa em que se define uma espécie de associação de pessoas dispostas a
fingir que gostam umas das outras, que são solidárias entre si (quando surge um
inimigo comum), e que ficam contentes em se reunir. O que quero dizer é que,
oficialmente, família é o que gostaríamos que fosse apesar de estarmos cansados
de saber que não é.
Tirando as crianças que ainda não usam o
computador – as que usam prefeririam ficar no seu quarto na noite de natal e
passar o tempo fazendo coisas ‘mais importantes’ do que ficar sendo beijadas e
obrigadas a desejar feliz natal para os tios chatos, ninguém gosta do natal. É
uma dessas datas malditas em que tudo dá errado. Famílias se reúnem para
discordar de tudo. Você é obrigado a sorrir e agradecer o par de meias que seu
tio lhe trouxe. É a data em que sua mãe exibe uma felicidade que você não
conhecia, para mostrar aos parentes que ela é feliz com seu papai, que passa a
noite bebendo para esquecer que é casado com sua mamãe.
O pior disso tudo é que as mães e os pais
ficam empurrando seus filhos para que façam um ‘bom’ casamento, apesar de
estarem carecas de saber que casamento algum pode dar certo. Muitas vezes, os
pais querem apenas um pouco de paz (coisa impossível com filhos de qualquer
idade por perto); ou são idiotas o bastante para acreditar que casamento é uma
coisa boa – e apenas o seu é que não deu certo.
Pertencer a uma família significa perder o
bem mais precioso que podemos alcançar: a liberdade para agir conforme nossos
desejos secretos. É que filhos têm necessidade de se orgulhar dos pais, e os
pais querem exibir sua cria como sendo o que de melhor existe como pedigree.
Assim, todos se comprometem a ter atitudes dignas (você sabe o que é isso?), de
modo a manter o orgulho intacto.
Já li sobre algumas tribos primitivas que
demonstravam uma sabedoria bem superior à nossa. Todos os filhos eram criados
juntos e cada mulher era mãe de todos. Os pais também eram pais de todas as
crianças. Mas essas civilizações eram muito avançadas para nossa compreensão
limitada pelo egoísmo, pela vaidade, pela ambição e, por que não dizer, pelo
mau caráter humano. Deve ser por isso que os ETs não querem papo com a gente.
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