À esquerda, o cirurgião Ivo Pitanguy exibindo o único defeito que encontrei nele: a barriga acentuada. Mas acho que ele já cuidou disso.
UM HOMEM DE SORTE
Ivo Pitanguy vai lançar o livro “Vale à pena
Viver”. Bem, para ele, aos 91 anos, deve ter sido uma extraordinária
experiência maravilhosa, mas não é o que ocorre com a maioria das pessoas. Sei
que é verdade a afirmação de que, sempre, nosso futuro vai depender, em parte,
do que fazemos no presente, e que o presente é efeito do passado. Pitanguy
talvez seja a única pessoa de quem nunca ouvi alguém falar mal. Não que ele
seja perfeito; todos temos um lado negativo, que muitas vezes não conseguimos
controlar; ele teve sorte ao decidir qual estrada seguir, em várias ocasiões.
Uma coisa, entretanto, me intriga; por quê
agimos erradamente, se sabemos que teremos que enfrentar as consequências? A
única resposta que encontro é que tudo é questão de sorte; mesmo as decisões
pensadas; qualquer decisão que tomamos reflete uma interpretação que nosso
cérebro faz, chamada experiência. Só que nossa mente, como eu já constatei, é
preguiçosa, e pega atalhos para trabalhar menos. Pensar significa analisar
todas as possíveis variáveis e suas consequências, e posso garantir que é uma
tarefa demorada e cansativa.
Ao falar sobre cérebro, gostaria de lembrar
que temos um DNA herdado, nem sempre apenas dos nossos pais, mas de
antepassados que nem conhecemos. Esse “patrimônio” que recebemos pode ter sido
misturado de maneira errada quando estamos em formação – antes de nascermos. Nossa
‘construção’ depende de sorte. É o que explica que crianças más sejam más desde
crianças; nesses casos, a maldade acompanha o raciocínio que se altera conforme
crescemos. Peço perdão aos médicos pela explicação simplista de assunto tão
complexo. Mas é como entendo que a coisa ocorre. Faz sentido para você?
Ivo é uma unanimidade internacional, mas
tenho que dar razão à um dos meus filósofos preferidos, o autor Nélson
Rodrigues, quando ele afirma que “toda unanimidade é burra”. Eu acrescentaria
“ou cega”. A arte de viver bem é quando tudo concorre para o sucesso,
principalmente o bom senso – quando o temos. Poucas pessoas são assim, mas eu
as invejo. Sempre fui mais emocional do que racional, mas isso está mudando,
talvez pela idade. Qualquer decisão tomada sob forte emoção quase sempre dá
errado.
Estudos indicam que cirurgiões têm uma
tendência à psicopatia. Acredito nisso. Tem que ser muito frio o sujeito que
está sendo operado e vê suas tripas pularem para fora, e raciocinar em qual
posição deve pôr seu corpo para evitar o pior. Pitanguy parece muito calmo,
calmo demais. Não estou insinuando que ele seja um psicopata, mas acredito que
ele tem as qualificações para ser.
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